Fundador do LinkedIn pede a Kamala para demitir 'anti big techs' de Biden
Após doar US$ 7 milhões para a campanha de Kamala Harris, o cofundador do LinkedIn — Reid Hoffman — mandou um recado direto à candidata democrata: rifar a chefe da Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês), Lina Khan, em caso de vitória nas eleições de novembro. "É uma pessoa que não está contribuindo com a América", disse em entrevista concedida à CNN, na sexta-feira (26).
Nomeada pelo atual presidente Joe Biden para o cargo, Lina é uma respeitada acadêmica, com estudos sobre a concentração de mercado promovida pelas big techs. Já o órgão comandado por ela é responsável por defender consumidores e trabalhadores da falta de concorrência entre empresas, com função semelhante à que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) desempenha no Brasil.
Mais do que colocar uma importante servidora na berlinda, a declaração de Hoffman — que também faz parte do conselho da Microsoft — mostra como as políticas do governo Biden para regulamentar as gigantes digitais vão sofrer intensa pressão da nata do empresariado norte-americano, mesmo com um eventual triunfo de Kamala Harris sobre o candidato do Partido Republicano, Donald Trump.
Ao longo de seu mandato, o presidente dos Estados Unidos vem comprando brigas importantes contra as big techs. Quando a Amazon foi acusada de práticas antissindicais, atuando para impedir que empregados de seus armazéns elegessem representantes para negociar benefícios coletivamente, o presidente fez um pronunciamento incomum.
"Vou ser claro: não cabe a mim decidir se alguém deve ou não se filiar a um sindicato. Mas vou ser ainda mais claro: isso também não cabe ao empregador. A decisão é apenas dos trabalhadores", declarou, em fevereiro de 2021.
No começo deste ano, o governo Biden também mexeu em outro vespeiro ao tentar definir regras para impedir que plataformas digitais driblassem direitos trabalhistas e classificassem os profissionais por aplicativo como "independent contractors" (autônomos, numa tradução livre). Conhecido no Brasil como "uberização", esse sistema de trabalho já foi objeto de agenda comum entre Biden e Lula.
Para além dos questionamentos trabalhistas, ações na Justiça movidas pelo FTC sobre investimentos em startups de inteligência artificial também tiram o sono dos representantes das gigantes digitais, como Amazon e Microsoft, que se queixam da interferência do governo.
Por outro lado, o órgão federal teme que a concentração do mercado da tecnologia crie um pequeno grupo de empresas poderoso o suficiente para inibir o surgimento de novos concorrentes. Para o FTC, essa "oligopolização" pressiona o Estado a beneficiar as companhias em diferentes esferas: da cobrança de impostos pagos por essas corporações às políticas de proteção de dados pessoais dos usuários.
O Vale do Silício encontra-se ideologicamente dividido nestas eleições. Enquanto alguns pesos-pesados apoiam Donald Trump, caso do bilionário Elon Musk, dono da fabricante de carros elétricos Tesla e da rede social X (antigo Twitter), outros pendem para Kamala Harris.
"O mais importante para os negócios é a estabilidade do país, a unidade, o Estado de direito", afirmou Reid Hoffman na entrevista à CNN, ao defender seu voto na candidata democrata e criticar o republicano.
O cofundador do LinkedIn é um dos principais articuladores de doações para a campanha de Kamala Harris, que já acumula mais de US$ 1 bilhão em arrecadação. Mas, para que ela se torne a primeira mulher a assumir a Casa Branca, a meca da economia digital quer que ela se comprometa, desde já, a deixar de lado as políticas pró-trabalhista e antitruste de seu antecessor.
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