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Melhor analista de bancos ignora ações que todo mundo adora

Ney Hayashi e Francisco Marcelino

17/11/2015 15h09

(Bloomberg) -- Com a recessão do Brasil se arrastando e as taxas de juros no ponto mais alto dos últimos nove anos, os analistas estão majoritariamente a favor de comprar ações do setor bancário. Todos, exceto um.

Marcelo Telles, do Credit Suisse, o analista mais bem classificado cobrindo o setor bancário do Brasil, está dizendo a seus clientes para venderem ações do Bradesco e do Itaú, as únicas recomendações de venda entre mais de 20 analistas que classificam as ações, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os investidores que seguiram seu conselho quando negociaram ações dos dois maiores bancos da América Latina em valor de mercado teriam ganho pelo menos 14% nos últimos 12 meses, um resultado melhor do que o de qualquer outro analista, mostram os dados.

Enquanto seus colegas apontam múltiplos baratos e uma boa variedade de empréstimos nas carteiras das empresas que devem proteger os bancos de uma recessão longa, Telles diz que as ações ainda têm mais espaço para cair com a inflação subindo e o desemprego aumentando. O Itaú caiu 10% neste ano e o Bradesco, 26%.

"A gente antecipa uma queda de lucro para os bancos no ano que vem", disse Telles em uma entrevista na segunda-feira, de Nova York, acrescentando que os bancos terão de reservar mais dinheiro para empréstimos de liquidação duvidosa mesmo depois de aumentarem as provisões no terceiro trimestre. "É sempre positivo ver os bancos criando um colchão. Mas eu acho que a magnitude da deterioração é muito maior do que isso".

Telles rebaixou sua recomendação para o Itaú e o Bradesco para underperform em 12 de outubro, dizendo que os bancos vão publicar os retornos sobre o patrimônio líquido abaixo do seu custo de capital nos próximos dois anos.

O Bradesco e o Itaú não quiseram comentar as declarações de Telles.

"O mercado não está conseguindo contabilizar as variáveis fundamentais desse setor em rápida deterioração", escreveu Telles no relatório de 12 de outubro, que também teve a participação de Lucas Lopes, Alonso Garcia e Victor Schabbel. "As avaliações ainda não estão refletindo os dois próximos anos, 2016 e 2017, que serão muito piores".

A maior economia da América Latina deve se contrair 2,8% neste ano e 0,9% em 2016, de acordo com estimativas compiladas pela Bloomberg. A inflação está o dobro da meta do Banco Central e a recessão levou o desemprego ao mais alto nível desta década.

Itaú e Bradesco, os dois maiores bancos do Brasil em valor de mercado, utilizaram créditos tributários extraordinários para aumentar a provisão para créditos de liquidação duvidosa, que incluem provisões extraordinárias, de 30% para R$ 62,9 bilhões (US$ 16,5 bilhões) no fim do terceiro trimestre, guardando dinheiro suficiente para cobrir uma duplicação desses empréstimos de alto risco de liquidação duvidosa, mostram os balanços.

"A deterioração mais rápida das tendências macro do Brasil se traduziram em uma perspectiva muito mais desafiadora para os bancos brasileiros", escreveu Telles. Os próximos dois anos "possuem todos os ingredientes para estarem entre os ambientes operacionais mais desafiadores dos últimos 15 anos"