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Melhor economia latino-americana pode virar mercado de fronteira

John Quigley e Christine Jenkins

12/01/2016 16h23

(Bloomberg) -- Há mais de uma década o Peru é uma estrela ascendente das economias emergentes, com um crescimento rápido, queda da dívida pública e uma saudável expansão de suas reservas internacionais. O país é amplamente apontado como um dos estados mais solventes da América Latina.

Quando se deu o colapso das commodities, o Peru, assim como seus vizinhos, foi atingido em cheio. Os orçamentos do governo foram reduzidos, o desemprego aumentou, as exportações caíram. Mas havia algo mais acontecendo e ninguém reagiu: o número de empresas grandes o suficiente para manter o mercado acionário de Lima na categoria "emergente" estava caindo perigosamente. Há quatro anos, eram cerca de 12; agora, há apenas três.

O resultado tem potencial catastrófico: um provável rebaixamento do mercado acionário de Lima, em junho, para o status de "fronteira". A atribuição seria dada pela MSCI Inc., cujos índices servem de referência para mais de US$ 9,5 trilhões em ativos em todo o mundo. Se o Peru entrar no rol de países como o Cazaquistão, os investidores internacionais poderão simplesmente ignorá-lo, o que significa que bilhões de dólares poderão deixar os fundos mútuos. O governo está se mexendo, mas o tempo está passando.

"As autoridades acabam de acordar", disse César Álvarez, diretor de economia e finanças da Escola de Negócios Centrum Católica, em Lima. "Eles precisam de pouco menos que um milagre para aumentar as negociações em um momento em que a confiança do investidor está em crise. Há uma possibilidade bastante alta de que nos transformemos em mercado de fronteira".

O principal índice acionário de Lima caiu 33 por cento no ano passado, o pior retorno do mundo depois do registrado pela Ucrânia, um país assolado pela guerra. Os volumes médios de negociação diária foram de US$ 15 milhões nos 11 primeiros meses de 2015, metade do nível observado no mesmo período de 2012. As 4.470 negociações realizadas na bolsa em novembro representam o nível mais baixo desde junho de 2002. Isso ocorre mesmo no momento em que o crescimento econômico do Peru, o mais rápido da América Latina há mais de uma década, mostra sinais de que está se recuperando do colapso das exportações de metais.

Algumas pessoas culparam o governo do presidente Ollanta Humala, que assumiu em 2011. Elas afirmam que o volume de negociação de ações caiu 70 por cento desde 2007, mas que apenas há dois anos o governo decidiu adotar medidas para aumentar as negociações, entre elas a redução dos custos das transações e a regulação dos fundos de investimento imobiliário. Foi apenas depois do ultimato da MSCI, em agosto, que o governo aprovou a eliminação de um imposto de 5 por cento sobre os ganhos acionários, que entrou em vigor em 1o de janeiro.

Os críticos dizem que as medidas foram tomadas tarde demais.

Alfredo Thorne, fundador da empresa de pesquisas Thorne Associates e membro do conselho da Bolsa de Valores de Lima, disse que há uma longa lista de medidas que o governo deveria ter tomado para atrair investidores e impulsionar as empresas a venderem suas ações: permitir a venda de ações por empresas estatais, remover as restrições a respeito de como as corretoras atraem o capital privado e criar novos títulos para incentivar a negociação de bonds corporativos. Além disso, a redução dos impostos sobre ganhos de capitais não foi aplicada a outros produtos, apenas às ações.

O Ministério das Finanças disse em resposta a perguntas que não há evidências concretas de que as regras tributárias dos últimos anos tenham ajudado a reduzir a liquidez. O Ministério disse que adotou medidas para aumentar as negociações, como a eliminação de restrições para vendas de baixa capitalização, a flexibilização das regras para vendas de ações e uma recente mudança nas regras para formadores de mercado (market makers).

"A decisão de tirar vantagem dessas mudanças para aumentar a liquidez depende puramente do setor privado", disse o ministério.