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Oligarca russo derrubado manda recado ao círculo íntimo de Putin

Irina Reznik

13/01/2016 17h20

(Bloomberg) -- Ele foi um dos homens mais poderosos da Rússia durante uma década. Velho amigo do presidente, gerenciava um milhão de trabalhadores e uma rede de ferrovias que abrange 11 fusos horários.

Mas Vladimir Yakunin de repente foi colocado para fora, encerrando uma carreira que incluiu uma passagem como oficial de inteligência na Organização das Nações Unidas, em Nova York, durante a Guerra Fria. Agora, Yakunin, 67, enviou alguns conselhos de despedida aos membros restantes do que ele qualificou como "o chamado círculo íntimo" de Putin: saibam qual é o lugar de vocês.

"A roda continuará girando", disse Yakunin em seu escritório particular, em Moscou, durante uma entrevista de 90 minutos. Putin ainda não formou uma "classe governante [estável] como a Rússia teve durante os tempos czaristas", disse o ex-chefe da estatal Russian Railways JSC.

Os comentários são uma rara admissão pública de uma pessoa com antigo conhecimento interno da fragilidade da fortuna e da influência no obscuro e aparentemente rígido sistema de controle que Putin construiu ao longo de 15 anos. Com esse sistema sob uma pressão sem precedentes devido à queda dos preços do petróleo e às sanções internacionais, qualquer passo dado por Putin para manter sua força no governo repercute muito além de Moscou.

Alerta sobre Berezovsky

Alguns privilegiados estão cometendo o equívoco de verem sua propriedade e seu privilégio como direitos inalienáveis, mas tudo o que eles têm depende das metamórficas visões de Putin quanto ao que é bom para a Rússia, segundo Yakunin. Ele deu dois exemplos do primeiro mandato do presidente para ilustrar os perigos de passar dos limites.

"Lembre-se do que aconteceu com Boris Berezovsky e Vladimir Gusinsky", disse ele, em referência a dois oligarcas pós-União Soviética que perderam suas fortunas tentando influenciar o Kremlin de Putin, como fizeram com o de Boris Yeltsin.

A saída de Yakunin do monopólio ferroviário em agosto foi a maior reformulação em anos dentro do "novo politburo", a mais alta autoridade sob o comunismo, e é um presságio de que há mais por vir, segundo Olga Kryshtanovskaya, socióloga que monitorou a ascensão dos serviços de segurança sob o comando de Putin, coronel aposentado da KGB.

As "renúncias ásperas" de pessoas leais a Putin são raras e a rejeição de Yakunin à costumeira cadeira no Senado, oferecida como consolação, ainda mais, disse ela.

Os EUA colocaram Yakunin em sua lista negra na primeira rodada de sanções pelo conflito na Ucrânia, em março de 2014, por ser "um confidente próximo de Putin" e um influente funcionário de governo; a Russian Railways transporta mais de um bilhão de passageiros e um bilhão de toneladas de carga por ano.

Companheiros de dacha

Yakunin e outros membros do grupo de Putin em São Petersburgo nos anos 1990, que inclui seu chefe de gabinete e ex-companheiro espião Sergei Ivanov, constituem "o círculo íntimo da liderança russa", disse o Departamento do Tesouro à época.

"Yakunin e Putin também eram vizinhos na seleta comunidade de dachas na costa do Lago Komsomolsk e foram cofundadores da Cooperativa de Dachas Ozero em novembro de 1996", disse a instituição.

Os motivos pelos quais Yakunin foi expulso desse clube exclusivo são contestadas.

Passaporte britânico

Ele diz publicamente que a decisão de sair foi dele e que Putin a aprovou, mas pessoas com conhecimento do assunto disseram que o presidente se sentiu traído quando o filho mais velho de Yakunin obteve cidadania do Reino Unido em um momento em que o país estava punindo a Rússia por causa da Ucrânia.

O Kremlin estava ciente do assunto e ninguém fez objeção, disse Yakunin.

"Meu filho mora no Reino Unido há cinco anos e tinha o direito de ter a cidadania", disse ele. "Eu não escondi isso da liderança do país".

O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, preferiu não comentar.

Título em inglês: A Fallen Russia Oligarch Sends Warning to Rest of Putin Insiders

Para entrar em contato com o repórter: Irina Reznik, em Moscou, ireznik@bloomberg.net

Tradutor: Samuel RodriguesEditora: Adelina Chaves