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O mágico do mercado do BOJ, Kuroda tira outro coelho da cartola

Enda Curran

01/02/2016 14h44

(Bloomberg) - O Banco do Japão (BOJ, na sigla em inglês) continua desafiando os limites da política monetária.

O BOJ surpreendeu os mercados na sexta-feira (29) ao aderir ao menos de zero, o clube das economias que adotaram uma política de taxas de juros negativas, exigindo que as instituições financeiras paguem ao Banco Central para deixar seu dinheiro além dos níveis de reservas exigidos.

Antes considerado impensável entre os bancos centrais, a estratégia de "pagar para guardar" agora foi adotada pela Suécia, pela Dinamarca, pela Suíça e pelo Banco Central Europeu, numa tentativa de fazer com que os bancos emprestem e as empresas gastem.

No caso do Japão, a decisão ousada do presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, mostra até onde o BOJ está disposto a ir para acabar com um mal-estar econômico de décadas.

Desde que assumiu em 2013, Kuroda já levou a política monetária aos limites com um programa agressivo de flexibilização quantitativa de títulos e com outras compras de ativos que estourou o balanço do banco central para cerca de três quartos da dimensão da economia. Ao longo do caminho, o iene caiu mais de 20 por cento frente ao dólar.

As aventuras de Kuroda com políticas monetárias extremas para o Banco Central foram projetadas para tirar o Japão do atoleiro deflacionário e gerar uma taxa de inflação de 2%.

Sob a política econômica de três pontas do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, apelidada de Abenomics, as políticas do BOJ devem coincidir com uma expansão fiscal agressiva e com duras reformas de reestruturação para conseguir colocar a economia de US$ 4,6 trilhões de volta ao trilho.

O BOJ fez sua parte. O Partido Liberal Democrático, de Abe, não acompanhou. Um aumento de impostos inoportuno em 2014 empurrou o Japão para a recessão.

A inflação continua morna - na verdade, a deflação continua sendo um risco -, as exportações são decepcionantes, os gastos dos consumidores estão fracos e as empresas não estão investindo o suficiente.

A terceira maior economia do mundo cresceu a uma taxa anualizada de 1% no terceiro trimestre.

"Nada está no caminho certo no Japão e é por isso que a pressão estava aumentando no Banco do Japão", disse Klaus Baader, economista-chefe para a Ásia-Pacífico do Société Générale, em Hong Kong.

Voto apertado

Oficialmente chamado de "Alívio Monetário Quantitativo e Qualitativo (QQE) com uma Taxa Negativa de Juros", a diretoria do BOJ decidiu na sexta-feira, em uma votação apertada de 5 contra 4, implementar uma taxa de -0,1% sobre determinadas quantias de dinheiro em excesso.

O anúncio foi feito poucas horas depois de que relatórios do governo mostrassem que a economia teve um resultado inesperadamente fraco em dezembro, com quedas maiores que o previsto na produção industrial e nos gastos familiares.

O índice Topix do Japão flutuou após a decisão BOJ: as ações inicialmente subiram 3,1%, depois perderam esses ganhos e voltaram a subir 2,9%.

A moderada procura por crédito mostra a dimensão da tarefa à frente. Um medidor da demanda por empréstimos residenciais caiu para -4 em janeiro. Embora uma medida da demanda por empréstimos corporativos tenha avançado para o patamar mais alto em dois anos, o nível continua a ser inferior aos registrados no Japão antes da expansão da crise global em 2006-07.

Para uma economia que está estagnada há duas décadas, são necessárias profundas e dolorosas reformas estruturais, lideradas pelo governo, de acordo com David Carbon, economista-chefe do DBS Bank em Cingapura. "A política monetária não pode assumir toda a carga", disse ele. "Taxas negativas na ordem dos 10 pontos base não vão fazer muita coisa".

Impacto simbólico

A política de taxa negativa entra em vigor no dia 16 de fevereiro e vai operar como sistema de três camadas nas contas-correntes das instituições financeiras. "Será que vai fazer uma diferença enorme? Tenho minhas dúvidas, mas isso mostra que o BOJ não está inativo", disse Baader do Société Générale. "Simbolicamente, acho que esse é um passo muito grande, mais do que em termos de eficácia".

O Banco Central também anunciou na sexta-feira que está adiando o prazo para chegar à meta de preço de 2% até por volta de seis meses a partir de abril de 2017, o terceiro adiamento em menos de um ano. O banco agora vê um aumento da inflação de 0,8% em 12 meses, com início em abril deste ano, ante uma previsão anterior de 1,4%.