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Telefônica Brasil espera crescimento de receita mesmo com crise

Fabiola Moura

04/02/2016 11h48

(Bloomberg) -- A Telefônica Brasil, a maior operadora de telefonia celular do País, está seguindo a estratégia de cortar custos e se concentrar nos clientes de mais alta renda para continuar se expandindo apesar da economia estagnada, disse o Diretor Financeiro Alberto Horcajo.

"Nós somos a única operadora móvel do Brasil que continua a crescer a receita trimestre a trimestre", disse Horcajo em uma entrevista no escritório da Telefônica em São Paulo. "Isso aconteceu até o 3T e a nossa aspiração é que continue".

A empresa, a maior e mais importante unidade da Telefónica, informou aumentos da receita no segundo e no terceiro trimestre de 2015 e deve registrar R$ 10,9 bilhões em vendas no quarto trimestre, superando assim os R$ 9 bilhões do ano anterior. Isso se deve, em parte, à tática de não entrar em guerras de preços com a Tim e com a Oi, que afetam as margens. A operadora preferiu focar em oferecer serviços de qualidade a um preço mais alto.

Os desafios para a Telefônica são enormes, mesmo para uma operadora que teve um desempenho melhor que o das outras em todas as métricas - crescimento, assinantes, margem de lucro. A projeção é que o PIB do Brasil encolherá mais de 3 por cento neste ano, marcando os primeiros anos consecutivos de recessão do País desde 1930 e 1931. E, até novembro, havia 269 milhões de linhas de telefone celular ativas no país, número que ultrapassa a população de 205,4 milhões - o que significa que é cada vez mais difícil encontrar novos clientes.

A grande aposta da Telefônica são os clientes de planos mensais pós-pagos, que tendem a gastar mais em dados e em minutos de chamada independentemente da turbulência na economia. A empresa cobra R$ 999,99 por mês (US$ 250) por um plano que inclui 100 minutos de roaming internacional e 100 minutos de ligações internacionais, um luxo em um país onde o salário mínimo é de R$ 880 por mês.

Em contraste, os clientes dos planos pré-pagos costumam gastar menos em ligações e serviços de dados, se perdem o emprego ou se os gastos familiares forem ajustados.

"Tanto a tendência secular quanto a cíclica estão trabalhando contra o setor", disse Vera Rossi, analista do Goldman Sachs, em relatório aos clientes na segunda-feira. "Além da pressão sobre a receita, onde a queda dos serviços de voz anulou o crescimento registrado pelos serviços de dados, é provável que o contexto macroeconômico gere um impacto negativo para a receita pré-paga" média por usuário.

A Telefônica caiu 24 por cento no ano passado. Doze analistas recomendam comprar a ação, seis recomendam manter e apenas um sugere vender, conforme dados compilados pela Bloomberg. A ação caiu 4,3 por cento neste ano até quarta-feira.

A empresa vai divulgar os resultados do quarto trimestre no dia 24 de fevereiro, depois do fechamento da bolsa em São Paulo. Não foi possível entrar em contato com porta-vozes da Oi e da Tim fora do horário comercial para pedir comentários para esta matéria.

A Telefônica também se beneficiaria de um projeto de lei que relaxaria as normas para as empresas de telecomunicações do Brasil, a fim de estimular o investimento estrangeiro e fusões e aquisições. Na condição de "concessionária", a Telefônica é responsável por manter 198.000 orelhões em São Paulo, entre outras obrigações.

O pacote abrangente, que poderia ser apresentado ao Congresso já em março, atualizaria as normas que entraram em vigor quando o principal modo de comunicação era o telefone fixo. Os telefones fixos representam 30 por cento dos negócios da empresa e esse número está caindo, disse Horcajo.

Nenhuma transação à vista

A Telefônica Brasil, que em 2014 adquiriu a provedora de internet de banda larga GVT, da Vivendi, não está buscando outras aquisições e espera finalizar a integração da marca Vivo com a GVT até o dia 1º de abril, disse Horcajo.

"Nós fizemos uma compra que trouxe muito valor para a Vivo", disse ele. "Praticamente 80% do preço pago pela GVT nós identificamos em formar sinergias, que já começaram a ser capturadas em 2015".