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Problemas do Deutsche Bank mostram desejo por clareza do BCE

Jeff Black e Rebecca Christie

11/02/2016 15h05

(Bloomberg) -- Em um mundo no qual as ações do Deutsche Bank podem oscilar mais de 10% em três dias, os investidores acabam perguntando ao Banco Central Europeu o que está acontecendo. É provável que, a curto prazo, eles continuem sem resposta.

Em vez disso, enquanto o processo de consolidação da nascente "união bancária" da Europa continua e o BCE debate como oferecer transparência a mercados voláteis, as autoridades estão deixando para os bancos a tarefa de desnudar o processo que determina seus níveis de capital.

Isso poderia piorar a incerteza em relação à política regulatória evidenciada no mês passado, quando as ações dos bancos italianos caíram após um mal-entendido em relação a um pedido de dados do BCE sobre empréstimos vencidos.

Desde que a forte queda eliminou quase 2 bilhões de euros em valor das ações do Deutsche Bank na segunda-feira, a atenção tem se concentrado em um dos gatilhos da queda -- o obscuro processo conhecido como SREP que afeta os níveis de capital de um banco e sua capacidade de pagar cupons sobre dívidas de risco, dividendos e bônus.

Embora a Autoridade Bancária Europeia diga que os investidores deveriam saber como os supervisores são capazes de limitar os pagamentos, até o momento o BCE não foi capaz de solucionar uma discussão interna a respeito do quanto informar -- e permaneceu em silêncio durante o recente colapso do mercado.

"Seria bom se a Autoridade Bancária Europeia, o BCE e os bancos centrais nacionais se sentassem para sincronizar suas políticas com o objetivo de recuperar alguma calma", disse Patrick Lemmens, que ajuda a administrar cerca de 8 bilhões de euros em ações de serviços financeiros na Robeco Groep, empresa pertencente à Orix Corp., em Roterdã.

"Se você analisa os indicadores fundamentais dos bancos europeus, como eles estão capitalizados e como melhoraram sua rentabilidade, vê que não há motivo real para pânico".

As ações do Deutsche Bank estão em baixa de quase 40% neste ano.

O Processo de Análise e Avaliação para Fins de Supervisão (SREP, na sigla em inglês) pode levar a uma exigência de capital adicional que se soma ao mínimo legal.

Apesar de o BCE ter aumentado significativamente a transparência desde que se transformou no supervisor bancário da região, em 2014, e possa publicar os planos de todos os 129 grupos bancários da zona do euro sob seu comando, é improvável que essa seja sua resposta para o chilique das ações.

Diferentemente disso, a visão da instituição é que nada impede o banco com sede em Frankfurt de divulgar mais informações por conta própria.

Os bancos obviamente podem publicar detalhes sobre seus planos de SREP se o virem como necessário ou se forem legalmente obrigados a fazê-lo, disse uma porta-voz do BCE por telefone. No tocante às comunicações aos participantes do mercado, o BCE está em consonância e acompanha as melhores práticas dos supervisores internacionais, disse ela.

O Deutsche Bank disse em janeiro que foi informado pelo BCE que precisa manter uma razão de capital mínima de 10,25%, proporção que subirá para 12,25% quando forem aplicadas exigências adicionais no início de 2019.

Apesar de ter revelado a cifra de capital discricionário, o banco não forneceu outros detalhes sobre o plano de SREP.

BCE cauteloso

Ao mesmo tempo em que os bancos sentem uma pressão do mercado para revelarem os detalhes completos de seus planos de capital, as autoridades do BCE estão cautelosas quanto a desistir de seu espaço de manobra com os bancos.

Contudo, Ignazio Angeloni, membro do conselho de supervisão do BCE, tem se posicionado a favor de fornecer mais informações aos investidores.

"Um nível apropriado de divulgação pode aumentar a confiança do mercado e encorajar as decisões de investimento, reduzindo, de fato, a incerteza", disse ele, em um discurso, em novembro.

Apesar disso, ele reconheceu que outras pessoas argumentam que "para preservar um diálogo aberto e produtivo entre a autoridade supervisora e o banco, todas as informações trocadas deveriam continuar sendo confidenciais".