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Possível recompra de títulos pelo governo não empolga investidores

Filipe Pacheco

26/02/2016 12h19

(Bloomberg) -- Os investidores em títulos de dívida do Brasil não se impressionaram com a ideia do governo de recomprar seus próprios títulos.

Os US$ 4,3 bilhões em títulos denominados em dólar do país com vencimento em 2025 perderam valor na quinta-feira (25), um dia depois do maior aumento em sete semanas após comentários do secretário do Tesouro, Otávio Ladeira de Medeiros, de que o governo está estudando esse plano.

A ideia faz sentido -- a aquisição das notas por cerca de 85% do valor de face reduziria os custos de serviço da dívida nos próximos anos --, mas isso não é suficiente para estimular a confiança dos investidores ou aumentar os preços de forma sustentada, segundo Juan Carlos Rodado, diretor de pesquisa para a América Latina do Natixis North America.

"Quando você está com problemas, você compra sua dívida a um preço mais baixo", disse Rodado em entrevista, de Nova York. "A Venezuela usa a mesma estratégia com seus títulos de curto prazo. Mas isso nunca é um bom sinal. Você cria demanda artificialmente para sua própria dívida".

Os comentários de Ladeira foram feitos logo depois de o Brasil ter perdido seu grau de investimento pela Moody's Investors Service --o sétimo rebaixamento da classificação soberana nos últimos dois anos.

Os títulos da maior economia da América Latina caíram 8,9% nos últimos 12 meses, pior desempenho entre os grandes emissores de títulos soberanos dos mercados emergentes.

Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff enfrenta dificuldades para aprovar medidas que, segundo ela, são necessárias para tirar o país de sua pior recessão em um século e reforçar as contas públicas.

O país está estudando a recompra de títulos que vencem entre 2025 e 2045 para reduzir os rendimentos de longo prazo, disse Ladeira em entrevista. O governo pretende deixar parte da dívida ainda sendo negociada no mercado secundário para continuar como referência para as empresas brasileiras que buscam emitir dívidas, acrescentou.

O Brasil não vende dívidas nos mercados externos desde setembro de 2014, período mais longo sem emissões de que se tem registro.

O prêmio extra médio exigido pelos investidores para a compra de notas brasileiras em dólares em vez de títulos do Tesouro dos EUA subiu 2,17 pontos percentuais nos últimos 12 meses, mais de duas vezes o aumento médio dos mercados emergentes, e o rendimento médio de 7,1% agora é mais elevado que o de Honduras, África do Sul, Líbano e Indonésia.

Os níveis de dívida do Brasil subiram, atingindo 66% do PIB (Produto Interno Bruto) no fim de 2015, e deverão aumentar para 80%, disse a Moody's. Com os altos custos dos empréstimos, os pagamentos de juros consumirão mais de 20% da receita do governo nos próximos anos, segundo um relatório de 24 de fevereiro.

A potencial recompra pelo governo é um movimento "para fingir que eles estão fazendo alguma coisa que realmente importa", disse Paul McNamara, gestor de recursos que ajuda a administrar US$ 4,3 bilhões em ativos na GAM UK em Londres, incluindo notas soberanas locais brasileiras.

"É uma coisa racional a se fazer se o Brasil espera conseguir emitir com rendimentos significativamente mais baixos em um futuro próximo. Do contrário, é só um remendo. E eu acho que é só remendo".