Lagarde vê perigos políticos com economia global lenta
(Bloomberg) -- A economia global está cercada por uma série de riscos políticos, do terrorismo à potencial saída do Reino Unido da União Europeia, num momento em que o crescimento é, no melhor dos casos, medíocre, disse a diretora do FMI, Christine Lagarde.
A perspectiva mundial está obscurecida por "um crescimento fraco, sem novos postos de trabalho, sem inflação alta, dívida ainda elevada - todas essas coisas que deveriam estar baixas e que estão altas", disse Lagarde em uma entrevista em Frankfurt na terça-feira a Francine Lacqua da Bloomberg Television. Os riscos descendentes aumentaram e "não vemos muita forma de ascender", disse ela.
A visão do Fundo Monetário Internacional da economia mundial ficou mais pessimista nos últimos seis meses, exacerbada pela desaceleração da China, os preços mais baixos das commodities e o risco de aperto financeiro em muitos países. O fundo com sede em Washington, que vai realizar suas reuniões de primavera a partir de 15 de abril, está alertando que o populismo político agora também representa um risco crescente para a ordem econômica, alimentada pela desigualdade de renda e a precipitação contínua da crise financeira da última década.
"O que tememos é um tipo de nova mediocridade", falou Lagarde na entrevista depois de realizar um discurso na Universidade Goethe de Frankfurt. Na palestra, ela pediu aos governos reformas estruturais preventivas que podem aumentar o potencial de crescimento e advertiu que a política monetária não pode suportar o peso de apoiar sozinha a produção.
Lagarde, 60, ex-ministra de Finanças da França, usou uma citação do "Fausto" de Goethe, em alemão, para atacar os governos por não atuarem o suficiente pela reforma ou os gastos fiscais para evitar que as economias escorreguem para o torpor.
"A mensagem eu ouvi bem, minha fé é que é fraca", disse ela. "Há sempre uma boa razão para não agir. Mas esse seria precisamente o movimento errado. O momento do crescimento é fraco, os riscos estão, provavelmente, crescendo, e falta muita confiança".
Lagarde voou para Berlim na terça-feira para uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, com quem o FMI está em desacordo sobre a questão da redução da dívida da Grécia. Lagarde falou depois que cartas duras foram trocadas na sequência da publicação pelo WikiLeaks do que supostamente é uma transcrição de uma reunião do FMI sobre o programa de resgate do país.
Flexibilidade fiscal
Sinalizando alguma flexibilidade sobre as metas fiscais que o FMI quer ver a Grécia cumprindo a fim de receber dinheiro do fundo, Lagarde disse que, nesse caso, é preciso mais ação sobre a sustentabilidade da dívida. O governo alemão alega que os custos do serviço da dívida da Grécia já são sustentáveis.
Lagarde, que acabou de ganhar um novo mandato de cinco anos à frente do fundo, usou seu discurso na Universidade para advertir contra serem arrastados pelo tipo de força que tem alimentado as candidaturas populistas de Bernie Sanders e Donald Trump na eleição presidencial dos EUA. Enquanto a desigualdade tem diminuído em uma escala global, a percepção é que "as cartas estão colocadas contra o homem comum - e a mulher - em favor das elites", disse ela.
"Para alguns, a resposta é olhar para dentro, relaxar de alguma forma estas ligações, fechar as fronteiras e recuar para o protecionismo", disse ela, sem citar nenhum político. "Como a história nos mostrou - várias vezes - este seria um caminho trágico".
Os comentários de Lagarde sobre a economia global são adicionados aos sinais de que o FMI vai rebaixar sua previsão de crescimento quando liberar seu World Economic Outlook atualizado em 12 de abril. Os ministros das Finanças e bancos centrais de 188 países membros do fundo vão se reunir naquela semana para as reuniões de primavera.
Sem Crise
"A boa notícia é que a recuperação continua; temos crescimento; não estamos em uma crise", disse Lagarde. "A notícia não tão boa é que a recuperação continua a ser muito lenta, muito frágil e os riscos para sua durabilidade estão aumentando".
Lagarde reiterou seu apelo para que os países usem todas as três ferramentas principais à sua disposição para impulsionar o crescimento: reformas estruturais, estímulo fiscal e política monetária.
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