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Safra de cana do Brasil ofusca deficit global de açúcar

Isis Almeida

15/04/2016 15h52

(Bloomberg) -- O início precoce da colheita da cana-de-açúcar no Brasil, o principal produtor mundial, está ofuscando as projeções de déficit global em um momento em que os países consumidores estão utilizando seus estoques.

A principal região produtora do Brasil colherá uma safra recorde neste ano, aumentando a oferta em um mercado no qual a demanda começou a cair, disse Toby Cohen, vice-presidente de pesquisa de mercado da American Sugar Refining (ASR). Em todo o mundo, os países estão solucionando o déficit na produção recorrendo aos estoques. As reduções do total armazenado na União Europeia responderam por 35 a 40 por cento do total mundial.

Os contratos futuros do açúcar bruto negociados em Nova York caminham para uma quarta semana de declínios, a mais longa sequência de prejuízos desde agosto, porque o início precoce da safra no Brasil ampliou a oferta. Os preços começaram a cair após subirem 11 por cento nos últimos 12 meses em um momento em que as principais empresas de pesquisa, da F.O. Licht à Green Pool, passando pela Kingsman, unidade da Platts (que faz parte do grupo McGraw Hill Financial), projetam escassez global nesta temporada e na próxima.

"Se os preços subirem, devemos esperar o desaparecimento de parte da demanda ou uma resposta pelo lado da oferta", disse Cohen, na quinta-feira, em entrevista no Kingsman EU Seminar, em Genebra. "O que está claro em relação ao Brasil é que o país está dando uma resposta ao mercado em termos de oferta".

Aumento da produção

A produção de açúcar no Centro-Sul do Brasil subirá mais de 10 por cento na safra que começou neste mês. A produção será de mais de 35 milhões de toneladas, segundo a Kingsman e a ASR, que é proprietária de refinarias de açúcar. Em março, o processamento de cana atingiu uma alta recorde e Alessandra Rosete, analista da Kingsman, disse que o esmagamento na primeira metade de abril mais que dobrará.

A produção internacional de açúcar ficará abaixo da demanda em 7,7 milhões de toneladas na safra que termina em setembro na maior parte dos países, disse Cohen, com base em projeções da ASR. Os países estão solucionando a falta de oferta usando estoques e a estimativa de escassez internacional encolherá para 3,4 milhões de toneladas em 2016-2017, disse ele. Os especuladores que apostam na escassez ampliaram as apostas em uma alta no mês passado para próximo de um recorde, mostraram dados do governo dos EUA.

O esmagamento de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil somará pelo menos 630 milhões de toneladas nesta safra e no ano passado o processamento chegou a 618 milhões de toneladas, 3,9 por cento a mais que a estimativa mais elevada dos analistas, disse Cohen. A produção excedente do Brasil foi mais que suficiente para compensar o déficit induzido pelo El Niño na safra da Tailândia, segundo maior exportador mundial, disse ele.

O Brasil vai direcionar mais cana para a produção de açúcar à custa do etanol porque os preços do açúcar estão mais elevados. As usinas do Centro-Sul direcionarão 44 por cento de toda a cana colhida à produção de açúcar, estimou Rosete, analista da Kingsman. A fatia é maior que a de 41 por cento da safra anterior, segundo a Unica.

"No momento, o que realmente importa é o que acontece no Brasil, e quando você olha para o Brasil, o volume está muito maior em escala", disse Cohen. "O Brasil é realmente um gigante quando se trata de mercado".