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Investidores são atraídos por retorno de títulos de emergentes

Maria Levitov e Srinivasan Sivabalan

27/04/2016 14h18

(Bloomberg) -- Olhe para qualquer lugar do mundo e você terá dificuldade para achar um investimento tão rentável e seguro quanto os títulos denominados em dólares das empresas com notas de crédito mais altas de países em desenvolvimento.

A alta de 5,6% desses títulos neste ano, apesar de não ser a maior em termos absolutos, eclipsa mais de 130 ativos, dos títulos do Tesouro dos EUA ao ouro e até mesmo o bitcoin no que se refere a volatilidade, segundo dados compilados pela Bloomberg. O salto de 19% nas ações colombianas poderia parecer uma melhor operação, mas as oscilações de preços em Bogotá expuseram os investidores a um risco seis vezes maior. Considerando ambos os fatores, os ganhos nos papéis corporativos em dólares de mercados emergentes rendem o dobro, mostram os dados.

Isto marca uma recuperação dos títulos depois da forte queda registrada no ano passado, alimentada pela preocupação de que uma alta das taxas de juros nos EUA, oscilações cambiais e uma desaceleração na economia da China alimentariam calotes corporativos nos mercados emergentes. Agora os investidores estão voltando e comprando a dívida de empresas como a Petróleos Mexicanos e a Vale em um setor de baixa volatilidade com um yield médio dois pontos percentuais a mais do que dos títulos do Tesouro americano.

"Antes havia muito medo e a queda atingiu patamares ridículos", disse Luc D'Hooge, que administra US$ 700 milhões como diretor de títulos de mercados emergentes na Vontobel Asset Management em Zurique e comprou neste ano notas latino-americanas com grau de investimento, entre elas as da Pemex, e créditos com yields altos na África. "O ponto principal é que o risco de inadimplência nos mercados emergentes não é tão grande. Os diferenciais que vimos no ano passado não estavam justificados e foi isso que provocou este desempenho".

Ameaça não materializada

As agruras de 2015 levaram economistas do FMI ao Banco de Compensações Internacionais a alertarem aos investidores que o enfraquecimento das moedas aumentaria o custo de pagamento nos mercados emergentes e provocaria mais calotes. A ameaça não se materializou neste ano porque o apoio estatal, estratégias de cobertura e uma recuperação das taxas de câmbio ajudaram as empresas não só a pagar suas dívidas, mas também a se refinanciarem com custos mais baixos.

Isso aumentou o apetite dos investidores por países em desenvolvimento, o que ajudou os títulos soberanos e corporativos com grau de investimento e com notas de yields altos a registrarem os quatro melhores desempenhos em uma faixa ampla de ativos globais. Uma análise de 65 mercados acionários do Canadá à Nova Zelândia, moedas do dólar à coroa dinamarquesa, commodities como o petróleo e o suco de laranja, títulos de tesouros, dívida corporativa e dos maiores fundos negociados em bolsa não mostrou uma pontuação melhor para os retornos ajustados pelo risco.

A recuperação nos preços do petróleo e das commodities teve um papel fundamental no desempenho. As empresas desses dois setores dominam a corrida dos ganhos nos títulos de mercados emergentes. As notas da Vale com vencimento em 2042 e as notas da mexicana Industrias Peñoles SAB de CV com vencimento em 2022 deram retorno de mais de 17% neste ano.

Pessimismo

A alta foi marcada por um constante pessimismo entre alguns gestores de recursos e poderia desaparecer com a alteração de qualquer um dos fatores, entre eles a postura dovish do Federal Reserve, os planos de estímulo da China ou a estabilidade dos preços do petróleo bruto, dizem alguns analistas.

Por enquanto, os investidores estão tentando fugir de quase US$ 8 trilhões em notas soberanas globais que só oferecem taxas de juros negativas. Os mercados emergentes os ajudam de três formas: seus títulos costumam ter taxas mais altas, os emitidos por empresas com grau de investimento são relativamente seguros e os títulos em dólares dentre eles eliminam o risco cambial.

"Agora as pessoas estão se perguntando por que investir em títulos com yields negativos se o prejuízo está garantido", disse D'Hooge da Vontobel. "Se você estiver pronto para aceitar um pouco de risco e volatilidade, é possível ganhar muito mais retornos".