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Análise: Guerra cambial no G7 pode ser bom para economia

Narayana Kocherlakota

18/05/2016 14h39

(Bloomberg) -- O governo americano parece preocupado com o que pode acontecer se outras economias importantes tentarem desvalorizar suas moedas em relação ao dólar. Na verdade, isso pode ser bom para a economia mundial.

Antes da reunião desta semana entre ministros das Finanças do Grupo dos Sete, o secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, alertou que as contrapartes dos EUA --as três maiores nações da zona do euro mais Canadá, Japão e Reino Unido --podem prejudicar o crescimento global se adotarem políticas que causem a depreciação de suas moedas em relação ao dólar. A meu ver, as preocupações dele são equivocadas.

De uma forma ou de outra, todos os países do G7 sofrem com falta de inflação, com índices de preços muito abaixo das metas de seus respectivos bancos centrais. Todos cumpririam as metas de inflação mais rapidamente se suas moedas sofressem persistente desvalorização em relação ao dólar.

Um dólar mais forte ajudaria outros países do G7 no tocante à inflação de duas maneiras. O primeiro aspecto é mecânico e tem vida curta: por exemplo, se a moeda japonesa se enfraquece, as importações dos EUA ficam mais caras em ienes, impulsionando imediatamente a inflação.

O segundo aspecto é mais persistente: as exportações japonesas para os EUA passam a dar mais lucro em ienes, proporcionando aumentos salariais aos funcionários de exportadoras japonesas, em uma dinâmica que gera mais inflação dentro do Japão.

Mas um dólar mais forte prejudicaria os EUA? Por dois motivos, acredito que não -- contanto que a apreciação não seja tão grande.

Primeiramente, a política monetária nos EUA é diferente e o Federal Reserve tende a subir os juros. Ao reduzir (ou mesmo reverter) as elevações de juros previstas, o país pode desfazer muitos dos efeitos adversos da apreciação moderada do dólar sobre inflação e geração de empregos (neste sentido, o Canadá está em posição semelhante).

A segunda razão, documentada por Gita Gopinath, da Universidade Harvard, é que produtos negociados globalmente geralmente são cotados em dólar e esses preços não variam muito em resposta a oscilações cambiais.

Assim, quando o dólar se aprecia em relação ao iene, os americanos pagam só um pouco menos em dólar por produtos trazidos do Japão, enquanto os japoneses pagam valores em ienes bem maiores por importações dos EUA. Isso porque a apreciação do dólar eleva a inflação no Japão muito mais do que diminui a inflação nos EUA.

Fim das contas: Depreciações cambiais ajudariam bastante muitos dos parceiros dos EUA no G7 e prejudicariam pouco ou nada os EUA. Ou seja, uma guerra cambial no G7 seria boa -- se os EUA continuarem pacifistas.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.