Análise: Bancos centrais estão virando o mundo de ponta-cabeça
(Bloomberg) -- Murray Rothbard estaria se revirando no túmulo. O economista americano escreveu em seu livro "O mistério dos bancos", de 1983, que as intervenções dos bancos centrais muitas vezes são desastrosas.
Ainda não se sabe se a última rodada de estímulos, que criou uma onda de juros negativos em todo o mundo, acabará mal, mas ela já virou os conceitos mais básicos de investimentos de ponta-cabeça.
As empresas estão sendo pagas pelos bancos por swaps ou travando custos para os quais normalmente teriam que pagar prêmio como proteção contra oscilações do mercado. Os swaps eram um dos negócios mais rentáveis dos bancos.
Ao mesmo tempo, enquanto mais de US$ 8 trilhões em títulos soberanos rendem menos que zero, os investidores estão comprando a dívida de olho nos retornos que podem obter com sua valorização. Por outro lado, investir em ações para receber dividendos nunca foi melhor, por isso os investidores estão abocanhando papéis para receber pagamentos regulares.
Se a política de juros zero virou os conceitos de investimento de cabeça para baixo, ela também está criando um incentivo muito mais fácil e perverso para os diretores financeiros incrementarem os retornos dos acionistas com dinheiro emprestado.
Desde que a Europa apresentou os juros negativos ao mundo, em 2014, as empresas do S&P 500 vêm ampliando os pagamentos de dividendos e elevando as dívidas na comparação com seus lucros operacionais.
As finanças tradicionais dizem que uma estratégia assim finalmente se tornará insustentável. Os rendimentos não podem se tornar mais negativos, por isso em algum ponto os ganhos de capitais dos títulos também serão limitados. Afinal, as debêntures não podem ampliar seus negócios como as empresas reais.
Mas as hipóteses financeiras tradicionais foram jogadas pela janela. Demorará anos para saber se isto resultará em desastre, como previsto por Rothbard. Por enquanto, graças aos bancos centrais, os investidores podem comprar ações para obter rendimentos e títulos para ter ganhos de capital.
Essa coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.
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