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Mundo segue esperando ainda mais estímulos dos bancos centrais

Jeff Black e Christopher Condon

10/08/2016 14h51

(Bloomberg) -- Quando diretores e presidentes de bancos centrais param para pensar, dificilmente passa pela cabeça deles a ideia de recuar.

Haruhiko Kuroda, comandante do Banco do Japão, é um bom exemplo. Após empurrar a instituição para uma postura de estímulo reflacionário ainda menos convencional do que a implantada por qualquer outro banco central de grande importância para a economia mundial, ele determinou uma revisão abrangente para estudar os efeitos dessa postura, que perderam potência. Segundo o próprio Kuroda, a única conclusão à qual o Banco do Japão não chegará quando o estudo for concluído para apresentação na reunião de política monetária de setembro é que é preciso fazer menos.

A situação reflete o paradoxo que autoridades monetárias do mundo todo devem debater quando se encontrarem no fim deste mês no simpósio anual do Federal Reserve em Jackson Hole, no Estado americano de Wyoming.

Os governos começam a se distanciar das amarras da austeridade que limitaram o crescimento econômico nos últimos anos, mas o apoio oficial no Japão, Europa e até mesmo nos EUA deve ser modesto, na melhor das hipóteses, e ficará aquém do necessário para configurar soluções de longo prazo, mantendo a pressão para que os bancos centrais ampliem medidas de estímulo.

"Ainda que os representantes dos bancos centrais estejam arrancando os cabelos por estarem sobrecarregados e defendendo reformas estruturais, eles sabem que não podem dar a impressão de que estão desistindo", disse Janet Henry, economista-chefe global do HSBC Bank Plc, em Londres. As autoridades "precisam ser muito, muito cuidadosas quanto a sinalizar que já fizeram tudo o que podiam."

O motivo, em parte, é a sensibilidade do mercado à percepção de que os bancos centrais estão tirando o pé do acelerador ? sensibilidade refletida no salto do iene em 21 de julho, após relatos de que Kuroda havia descartado a política conhecida como dinheiro de helicóptero, e também no tombo das bolsas globais em 3 de dezembro, após o Banco Central Europeu não entregar o estímulo adicional que era esperado.

Outra parte do motivo é a impossibilidade de as autoridades admitirem fracasso.

Na tentativa de atingir a meta de inflação anual de 2 por cento, o Banco do Japão expandiu seu balanço patrimonial para o equivalente a mais de 80 por cento do Produto Interno Bruto, indo muito além dos esforços similares de estímulo por parte dos EUA e Europa. Apesar de algum sucesso inicial em termos de reversão da deflação, com o colapso do preço do petróleo e o esvaziamento dos efeitos de uma elevação do imposto sobre valor agregado em 2014, o índice de preços ao consumidor perdeu fôlego de forma consistente e tem caído na maior parte deste ano.

Juros negativos

As críticas domésticas e externas à decisão em janeiro de introduzir taxas de juros negativas para alguns depósitos talvez tenham incentivado a reavaliação. Investidores questionam se o estímulo do Banco do Japão está perto dos limites, mas a maioria dos economistas sondados pela Bloomberg News afirma que a revisão provavelmente resultará em mais estímulos, não menos.

Na Europa, tudo indica que a política monetária será intensificada. O presidente do BCE, Mario Draghi, enfrenta o risco de uma nova onda de desaquecimento econômico após a decisão do eleitorado do Reino Unido de sair da União Europeia, além de pressões renovadas oriundas da queda de preços do petróleo.

A inflação na zona do euro subiu apenas 0,2 por cento nos 12 meses até julho. Mais estímulos, na forma de extensão das compras de ativos, podem ser considerados durante a reunião de política monetária de 8 de setembro.