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Alívio promissor da inflação ainda não deve convencer BC

Josué Leonel e Patricia Lara

17/08/2016 13h59

(Bloomberg) -- Os dois resultados mais recentes da inflação vieram abaixo das previsões do mercado, reforçando um cenário de alívio na alta dos preços que deve permitir ao Banco Central retomar o corte da taxa Selic, inalterada em 14,25% há mais de um ano, em algum momento deste segundo semestre. O recuo da inflação, contudo, ainda é insuficiente para os investidores apostarem em afrouxamento monetário no curtíssimo prazo.

O IGP-10 de agosto registrou queda de 0,27%, abaixo da estimativa do mercado de -0,25%, na primeira deflação do índice em dois anos. O IPC-Fipe mostrou inflação quase zerada, de 0,05%, em São Paulo até 15 de agosto, muito abaixo da estimativa dos analistas, de 0,22%. No caso do IGP-10, o principal motivo do alívio é a queda dos preços agrícolas ao produtor, que estão revertendo a alta anterior causada por problemas climáticos.

No caso dos preços industriais ao produtor, o câmbio também ajudou a diminuir a inflação, diz o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. Embora o dólar venha caindo desde janeiro, dois fatores impediram seu efeito sobre a inflação, que continuou salgada nos meses anteriores: 1) o choque de tarifas, especialmente de energia, de 2015, que afetou o custo das empresas; 2) a alta acumulada do dólar no ano passado, de quase 50%, cujos efeitos inflacionários só recentemente podem ter começado a se esgotar, abrindo espaço para o impacto positivo do alívio cambial verificado neste ano.

Newton Rosa acredita que o alívio da inflação deve permitir ao BC promover dois cortes de juros no segundo semestre, para 14% na reunião de outubro e 13,75% em novembro. Cortes maiores da Selic não seriam recomendáveis diante das incertezas que ainda cercam a inflação. Ainda não se sabe, por exemplo, se o alívio mais recente terá continuidade e se será captado pelo IPCA, o indicador oficial do regime de metas de inflação seguido pelo BC.

Antonio Madeira, economista da MCM, espera corte da Selic apenas na última reunião do Copom do ano. Para ele, o repasse da queda dos preços no atacado para os preços ao consumidor tem sido lento e segue como fator de risco que tem preocupado o BC. Ele lembra ainda que há o risco de bandeira amarela na energia, que, se for confirmada, acrescentará 0,12 pp à inflação.

A demora do ajuste fiscal também pode recomendar cautela ao BC na política monetária.
Madeira chama a atenção para o fato de a tramitação das propostas de ajuste fiscal ser um processo lento, que exige grande capacidade de negociação do governo. "Esse é um evento cercado de incertezas. Não temos segurança se o governo vai conseguir manter proposta sobre gastos sem alterações e isso decorre do que foi visto na questão da negociação dos estados".

Newton Rosa, da SulAmérica, observa que o mercado vem dando ao governo Temer o desconto de que as dificuldades de negociação no Congresso são compreensíveis neste período anterior ao julgamento final do impeachment e antes das eleições municipais. Passado este período, a tolerância do mercado com eventuais tropeços do governo deve diminuir, diz o economista. "Será o fim da lua de mel do mercado com o governo Temer".