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Análise: Diesel está morrendo e funeral será caro

Chris Bryant

26/08/2016 13h22

(Bloomberg) -- Os investidores do setor do petróleo conhecem até demais o conceito de "ativos encalhados": o risco de que as políticas climáticas tornem os recursos de hidrocarboneto inviáveis financeiramente. Mas o petróleo não é o único a temer. Na Europa, usinas a carvão e gás ficaram encalhadas por causa do surgimento da energia solar e eólica, o que provocou prejuízos de bilhões de euros.

Existem razões para pensar que o setor automotivo da Europa também poderia ser deixado de lado.

As fabricantes de automóveis terceirizam muito para fornecedores, mas continuam fazendo questão de criar seus próprios motores de combustão. Eles são os alicerces da identidade da marca e o valor agregado na fabricação. O esforço consome investimentos de bilhões de euros, mas esses ativos correm o risco de ficarem estagnados pelo surgimento dos veículos elétricos.

Esse perigo é grave na Europa porque as normas sobre a emissão de dióxido de carbono são mais rigorosas do que nos EUA. A grande aposta que as fabricantes de veículos do continente fizeram no diesel só piora a situação. Graças em parte à Volkswagen, essa tecnologia não está fazendo muitos amigos.

Particularmente para os veículos menores, o esforço técnico exigido para fabricação de motores a diesel compatíveis está se tornando pouco econômico. Embora mais de metade dos veículos vendidos no continente tenham motores a diesel, consultores da Alix Partners projetam que essa proporção será de apenas 9 por cento em 2030. As fábricas de motores de combustão vão fechar.

O problema para o setor é que as fábricas, a tecnologia e as ferramentas necessárias para produzir motores de combustão, mecanismos de transmissão para veículos e caixas de marcha equivalem a uma grande parte do balanço corporativo. Como indicou Philippe Houchois, da Jefferies, existe um risco real de que o setor automotivo da Europa tenha que fazer a baixa contábil de investimentos.

É difícil dizer o número total porque esses balanços não dão muitos detalhes. Mas pode-se ter uma noção da exposição do setor a partir da Fiat Chrysler, que estima que os equipamentos para fabricar mecanismos de transmissão e realizar a pesquisa e o desenvolvimento correspondem a 20 por cento do custo da elaboração de um veículo.

A Tesla, o bicho-papão elétrico das fabricantes de carros alemãs, tem seus próprios problemas, como explicou meu colega Liam Denning. Mas Elon Musk não terá que fazer a baixa contável de um monte de fábricas de diesel antigas. Não surpreende que as fabricantes de automóveis estejam sendo negociadas a múltiplos de lucros tão baixos.

O impacto sobre o balanço vai depender da rapidez com que os veículos elétricos deslanchem. Eles respondem por menos de 2 por cento das vendas de automóveis na Europa e o setor achava que eles passariam anos sendo uma opção minoritária, dando-lhes tempo para depreciar investimentos a um ritmo administrável.

No entanto, com a queda brusca dos custos das baterias, a Bloomberg New Energy Finance estima que o custo de ter um veículo elétrico será menor que o custo de ter um veículo de combustível tradicional já em 2022. Tendo arrastado o assunto, até mesmo a Volkswagen afirma que um quarto de suas vendas será composto por veículos elétricos por volta de 2025.

O ideal seria que as fabricantes de automóveis interrompessem os investimentos em diesel. Infelizmente, elas terão que mantê-los para chegar às rígidas metas de emissão europeias de 2021. Os veículos elétricos não terão ocupado esse vácuo. Por isso, as fabricantes de automóveis não têm alternativa. A Daimler anunciou um investimento de 3 bilhões de euros (US$ 3,4 bilhões) em motores a diesel neste ano. A empresa afirma que ainda prevê um futuro longo para os motores de combustão -- para novos veículos e peças de reposição.

O novo chefe da VW, Matthias Müller, pelo menos parece perceber o perigo. Ele disse que pode chegar um momento em que já não valerá a pena investir em diesel. O chefe da BMW, Harald Krüger, diz algo parecido. Mas esse momento está chegando rápido demais.

Algumas medidas podem ser tomadas para facilitar essa transição. Além de reduzir ao mínimo o investimento no diesel, as fabricantes de veículos poderiam fazer parcerias com empresas rivais. Já existem joint ventures de motores: a Renault tem uma com a Daimler.

Os sindicatos exigirão que as fabricantes de automóveis preservem os empregos, então algumas devem tentar transformar as fábricas de motores de combustão em produtoras da tecnologia elétrica. A VW é uma das empresas que está analisando investimentos na produção de baterias.

No entanto, fabricar motores e transmissores elétricos é muito menos complicado do que produzir motores de combustão, o que significa que há menos valor agregado pelas fabricantes. Algumas podem terceirizar essa tarefa para um fornecedor. Além disso, a produção de baterias não exigirá muita mão de obra, do contrário os custos não cairiam o suficiente para que os veículos elétricos fossem econômicos.

Como o fim do diesel parece inevitável, funcionários e investidores enfrentam um choque elétrico.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.