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Dinheiro de helicóptero? BOJ pode preferir financiar ferrovias

Tesun Oh

29/08/2016 09h37

(Bloomberg) -- Esqueça o "dinheiro de helicóptero". O Banco do Japão poderá se concentrar em um financiamento um pouco mais próximo do chão -- trens, hospitais, usinas de energia e esgoto.

Esta é a visão de alguns analistas, para quem o banco central pode começar a adquirir títulos dos governos locais e de empresas públicas que financiam esses projetos após sua reunião de 20 e 21 de setembro. Isso evitaria o financiamento direto de gastos fiscais. O rendimento médio sobre as notas das prefeituras, cidades e vilas do país caiu 19 pontos-base, para 0,09 por cento, desde que o BOJ colocou em prática sua política de taxas de juros negativas, em janeiro, segundo um índice da Nomura Securities.

É maior a especulação de que o BOJ flexibilizará ainda mais a política monetária depois que o primeiro-ministro Shinzo Abe revelou um programa de estímulos de 28 trilhões de ienes (US$ 274 bilhões). Como o banco central já compra títulos soberanos, notas corporativas e fundos negociados em bolsa, entre suas poucas opções restantes estão as dívidas de administrações locais e os chamados títulos zaito.

"Existe uma forte possibilidade de que o início da compra de títulos zaito e títulos dos governos locais entrará em discussão", disse Hiroshi Miyazaki, economista do Mitsubishi UFJ Morgan Stanley em Tóquio. "Seria uma medida razoável do BOJ porque ajudaria a financiar o fluxo para os investimentos em infraestrutura", como o projeto de trem maglev Tóquio-Osaka, disse ele.

Um porta-voz do BOJ preferiu não comentar.

As agências de zaito e as administrações locais têm 93 trilhões de ienes em títulos, cerca de 10 por cento apenas do total de títulos do governo japonês em circulação, segundo dados da Associação de Negociantes de Títulos do Japão.

O BOJ poderá mirar as notas, segundo Toshiyasu Ohashi, analista-chefe de crédito da Daiwa Securities Group em Tóquio.

"Se o banco central começar a comprá-las, os investidores conseguirão vendê-las ao BOJ a preços mais altos", disse ele. Isso poderia ampliar a quantidade de títulos negociados com rendimentos negativos no mercado, levando a um aumento do número de investidores com dificuldades para conseguir retornos, disse ele.

Essas desvantagens podem ser toleráveis para o presidente do BOJ, Haruhiko Kuroda, que busca novas medidas para manter mais dinheiro fluindo em uma economia que cresceu na metade do tempo, apenas, desde que ele lançou seus estímulos em abril de 2013. A inflação caiu cinco meses seguidos até julho. Embora os rendimentos de referência tenham atingido uma baixa recorde de menos 0,3 por cento no mês passado, desde então eles recuperaram dois terços disso.

No sábado, na conferência Jackson Hole, em Wyoming, nos EUA, Kuroda reiterou a promessa de aumentar os estímulos monetários se necessário. Em entrevista gravada em junho ao programa BBC Radio 4, ele disse que nesse estágio "não há necessidade, nem possibilidade de aplicar o dinheiro do helicóptero". O termo se refere a uma situação em que o governo emitiria títulos perpétuos não negociáveis sem data de vencimento e o Banco do Japão os compraria diretamente.