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Pimco, Pioneer apostam em títulos ligados à inflação global

Liz Capo McCormick e Anchalee Worrachate

29/08/2016 11h11

(Bloomberg) -- Foram tantos alarmes falsos sobre o retorno iminente da inflação nos últimos dez anos que ficou difícil acompanhar. Houve um desconforto inicial depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) reduziu os juros a zero e mais um susto quando a instituição começou a comprar enormes quantidades de títulos. E depois quando o Banco Central Europeu levou sua taxa de referência para território negativo.

Os titãs do mundo dos investimentos em títulos continuam impávidos.

Muitos deles voltaram a projetar -- e, o que é mais importante, estão de fato torcendo por -- um aumento da inflação. A Pioneer Investment Management, por exemplo, está montando o primeiro fundo de renda fixa atrelado à inflação mundial de seus 88 anos de história. Em parte com a mesma ameaça em mente, a Pacific Investment Management Co. está reduzindo a duration dos títulos que possui em seu Income Fund de US$ 63 bilhões.

Desta vez vai ser diferente, dizem eles, porque a política fiscal, e não a política monetária, atuará como o principal motor dos preços mais altos. Dos EUA, onde ambos os candidatos à presidência estão promovendo planos de estímulos, e do Japão, onde os legisladores aprovaram um programa de infraestrutura de US$ 46 bilhões, ao Reino Unido, onde o ministro das Finanças indicou que poderia aumentar os gastos, a discussão sobre generosidade fiscal está no ar.

Esta mudança no debate é de certo modo uma espécie de reconhecimento de que, apesar de tudo o que fez para respaldar a economia mundial depois do crash de 2008, uma política monetária frouxa acabou fracassando quando teve de levar por conta própria as taxas de crescimento -- e a inflação -- de volta aos patamares de antes da crise. O estímulo fiscal, acredita-se, será mais eficaz para colocar dinheiro imediatamente na mão dos consumidores.

"Chegamos ao ponto em que os governos perceberam que a austeridade não vai ajudar", disse Cosimo Marasciulo que, como diretor de títulos soberanos da Pioneer, ajuda a administrar US$ 250 bilhões em ativos. "Alguns estão abandonando essa ideia e focando em estimular a economia. Eles ainda não foram agressivos, mas é um começo. Não podemos subestimar as consequências disso para a inflação".

Marasciulo disse que a Pioneer viu uma oportunidade para um fundo de renda fixa atrelado à inflação global depois que uma análise das expectativas de longo prazo mostrou que os traders não preveem que os aumentos de preço atinjam as metas dos bancos centrais em breve. No caso da zona do euro, os traders estimam que isso só acontecerá pelo menos dentro de 30 anos.

"Isso é pessimista demais, porque eu acho que já chegamos ao fundo do poço em termos de inflação", disse Marasciulo. "Estamos começando a ver sinais de recuperação dos salários e contratações em alguns lugares. Apesar de ainda estarmos em um ambiente de inflação historicamente baixa, precisamos comparar isso com o que o mercado está precificando".