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Juros negativos parecem funcionar, diz vice-presidente do Fed

Jeanna Smialek e Jana Randow

30/08/2016 14h34

(Bloomberg) -- O vice-presidente do Federal Reserve (Fed), Stanley Fischer, disse que as taxas de juros negativas parecem estar funcionando em outros países, mas reforçou que elas não serão discutidas nos EUA.

Embora o Fed não "planeje fazer qualquer coisa nessa direção", os bancos centrais que as usam "basicamente acreditam que elas têm bastante sucesso", disse Fischer nesta terça-feira à Tom Keene, na Bloomberg Television, em Washington. Ele reiterou que os incrementos de taxas do Fed dependerão dos dados, sem dar um cronograma específico.

Os comentários de Fischer sobre as taxas negativas chegam dias depois que a presidente Janet Yellen deixou o assunto fora de um discurso sobre o futuro kit de ferramentas de política monetária dos EUA, fato que sugere que elas não são uma opção a serem discutidas no Fed. Fischer é ex-presidente do Banco de Israel e figura destacada na economia internacional, portanto seus comentários constituem um apoio importante à política não convencional e muitas vezes polêmica.

"Estamos em um mundo onde elas parecem funcionar", disse Fischer, e observou que apesar de os juros negativos serem "difíceis de lidar" para os poupadores, eles tipicamente "vão junto com preços de ações bastante decentes".

Visão oposta

A avaliação de Fischer se compara à visão de Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra, que neste mês rejeitou a ideia das taxas negativas como opção eficaz. "O que nós vimos em outros países é, para sermos honestos, que eles entenderam isso um pouco mal", disse Carney em entrevista de rádio no começo de agosto.

O Banco Central Europeu e o Banco do Japão (BOJ, na sigla em inglês) recorrem a pacotes de estímulo que incluem uma taxa de depósitos negativa para alimentar a inflação e reviver a economia. Os presidentes do BCE, Mario Draghi, e do BOJ, Haruhiko Kuroda, afirmaram que eles têm escopo para baixar ainda mais os juros se for necessário, embora o debate sobre os riscos e efeitos colaterais dessa política esteja ganhando impulso.

Outros bancos centrais estão flexibilizando a política, enquanto as autoridades do Fed estão tentando estimar se estão suficientemente perto de atingir seu duplo mandato de preços estáveis -- que eles tentam manter perto de 2 por cento -- e pleno emprego para justificar o segundo incremento das taxas de juros desde a crise financeira global. Eles aumentaram os juros pela primeira vez em dezembro, mas seus planos de incrementos posteriores dos juros foram frustrados por acontecimentos internacionais e por um leque de dados fracos dos EUA.

Dependência de dados

Fischer disse que os dados econômicos que estão por vir determinarão a trajetória dos aumentos de taxas.

"O trabalho do banco central nunca está pronto, e não acredito que se possa dizer 'um e pronto' e só", disse ele. "Podemos escolher o ritmo, mas escolhemos o ritmo com base nos dados que estão chegando".

Fischer disse que os EUA estão perto do pleno emprego apesar de o dólar ter se fortalecido, e, embora haja certo pessimismo em relação ao ritmo de expansão, "esse problema tem a ver acima de tudo com o crescimento da produtividade, algo muito difícil de controlar para as autoridades econômicas. Depende muitíssimo do que os indivíduos estejam fazendo em suas empresas, e está muito lento no momento".