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Robôs dão nova vida à indústria leiteira do Japão

Aya Takada

04/10/2016 15h24

(Bloomberg) -- Jin Kawaguchiya desistiu de uma carreira no setor financeiro para ajudar a recuperar a abalada indústria leiteira do Japão -- com a ajuda de robôs.

O Japão depende cada vez mais da importação de alimentos como queijo e manteiga e a produção de leite do país despencou em duas décadas, atingindo o nível mais baixo em 30 anos em 2014. Os custos subiram mais rapidamente do que os preços com a estagnação da economia, o que prejudicou os lucros, e os fazendeiros idosos estão deixando o negócio por não conseguirem encontrar um número suficiente de jovens dispostos a assumir o trabalho pesado de cuidar das vacas diariamente.

Mas a tecnologia está mudando essa dinâmica. Na ilha de Hokkaido, principal região produtora de lácteos do Japão, no norte do país, Kawaguchiya transformou a fazenda de 20 vacas que herdou de seu sogro há 16 anos na maior fábrica automatizada de leite da Ásia. Os robôs extraem o leite de 360 vacas três vezes por dia e asseguram que os animais estejam alimentados e saudáveis. As máquinas inclusive coletam as fezes e as depositam em um forno para gerar eletricidade.

"Sem os robôs, eu teria que contratar pelo menos 15 trabalhadores de meio período para cuidar das vacas", disse Kawaguchiya, 44, em entrevista na fazenda, em Kakuyama. "Eu consigo economizar 15 milhões de ienes (US$ 146.000, cerca de R$ 475.000) por ano graças a eles."

Kawaguchiya não tinha experiência na criação de gado antes de assumir a fazenda do sogro, cujas três filhas não tinham interesse em administrar um negócio que exigia a conexão manual de tubos de ordenha às tetas de cada vaca. Kawaguchiya conta que pediu demissão de um emprego de gerente do Shoko Fund & Co., um banco comercial, em Tóquio, porque viu uma oportunidade de ter uma vida melhor com a agricultura, desde que pudesse mudar o aspecto econômico do negócio.

Para ganhar escala, ele combinou a fazenda com outras quatro plantas de lácteos das proximidades para criar a Kalm Kakuyama, uma empresa que atualmente possui 610 animais, incluindo 380 vacas compradas no ano passado. Cerca de 250 são bezerros ou fêmeas gestantes que não produzem leite para a fazenda.

A automação transformou o negócio. Após investir 1,5 bilhão de ienes para instalar os robôs e o gerador de 150 quilowatts por hora, há cerca de 14 meses, Kawaguchiya diz que sua produção de leite cru se quadruplicará neste ano em relação a 2015, para 4.500 toneladas, e chegará a 5.600 toneladas no ano que vem, quase 10 vezes a produção de uma fazenda de gado leiteiro comum do Japão. Ele é, atualmente, o maior produtor da parte oeste de Hokkaido. Gastando menos tempo no trabalho manual ele consegue analisar dados sobre a produção e a qualidade do leite e sobre a saúde dos animais para conseguir uma eficiência maior.

Com o surgimento de mais e maiores fazendas de gado leiteiro em Hokkaido, a produção de leite cru está se recuperando. No primeiro semestre de 2016, a produção no Japão subiu 1,1 por cento em relação ao ano anterior, para 3,78 milhões de toneladas, e caminha para um segundo ganho anual desde que tocou o patamar de 7,33 milhões de toneladas em 2014, nível mais baixo desde 1984, segundo o Ministério da Agricultura. Embora o número de fazendas de gado leiteiro continue caindo, aquelas que permanecem estão se tornando maiores e sua produtividade por vaca está crescendo, mostram os dados.

"Queremos que a nossa empresa seja um núcleo de atividades econômicas nessa comunidade", disse Kawaguchiya. "Assim conseguiremos encontrar sucessores, seja entre os membros da nossa família, seja fora dela."