Ninguém vai aconselhar você a deixar a 'pose de poder' de lado
(Bloomberg) -- Até recentemente, a "pose de poder" tinha todos os atributos da autoajuda viral de sucesso: um nome atraente, a segunda palestra TED mais famosa de todos os tempos e, o melhor de tudo, a ciência para respaldá-la.
Bastava adotar a postura de uma pessoa poderosa durante uns minutos para que você se tornasse uma pessoa poderosa. Mas será que uma ideia simples, depois de absorvida pela indústria de conselhos para o trabalho, sobrevive mesmo sem as bases científicas?
"Eu continuo usando", disse Carla Sorey-Reed, orientadora executiva e fundadora e presidente da Women Uninterrupted. Sua confiança na pose de poder permanece intacta quatro semanas depois que a pesquisa psicológica que fundamenta essa ideia começou a desmoronar publicamente.
"Eu faço! Quando me reúno com um cliente novo", disse Sorey-Reed, "vou ao banheiro, fecho a porta e faço uma pose de poder".
Em 2010, um grupo de pesquisadores demonstrou que permanecer durante apenas dois minutos em diversas posições dominantes -- como a da Mulher Maravilha -- aumenta o nível de testosterona e reduz o de cortisol.
A pose de poder, portanto, tinha tanto benefícios psicológicos quanto físicos. Dois anos depois, Amy Cuddy, uma das autoras da pesquisa, resumiu essa ideia instigante em uma palestra TED notavelmente famosa.
A partir daí, a pose de poder deslanchou. Cuddy, pesquisadora da Universidade de Harvard, escreveu "Presence", livro que entrou na lista dos mais vendidos do New York Times e discorre sobre como a linguagem corporal pode mudar nossa forma de pensar.
Os meios de autoajuda empresarial acreditaram e publicaram artigos com manchetes como "Esta simples 'pose de poder' pode mudar sua vida e sua carreira" e "As 'poses de poder' que aumentarão sua autoconfiança instantaneamente".
Até que algo estranho aconteceu e impediu que a pose de poder se tornasse parte da sabedoria popular moderna sobre como ser bem-sucedido no trabalho. A pesquisa foi atacada por uma das próprias autoras do estudo.
Dana Carney, professora associada da Faculdade de Administração Haas, da Universidade da Califórnia-Berkeley, escreveu no mês passado uma acusação contra seu próprio trabalho.
"Não acredito que os efeitos da 'pose de poder' sejam reais", disse ela em uma declaração publicada em seu site. Ela deixou de estudar as poses de poder, desestimula que outros o façam e afirma que parou de ensinar esse assunto em suas aulas.
Sua renúncia à pose de poder segue-se a críticas de outros pesquisadores e diversas tentativas fracassadas de reproduzir a investigação original. A maioria das críticas se concentra no fato de que os pesquisadores utilizaram "p-hacking", uma forma de manipular dados para obter o resultado estatístico desejado.
"Esta é uma bomba que está detonando no centro do pensamento de liderança industrial", escreveu Drake Baer no blogue Science of Us, da New York Magazine. Mas, estranhamente, não houve muitas explosões, nem estilhaços.
O caso é que a orientação de carreira não se baseia na ciência para a maioria de suas sugestões. Muitas das empresas de orientação reiteraram que estimulavam práticas semelhantes à pose de poder muito antes da palestra TED de Cuddy, embora não tivessem um nome para ela. Se essas técnicas fazem com que as pessoas se sintam melhor, talvez isso seja a única coisa que importa.
"Eu sempre digo: 'O que você tem a perder?'", disse Sorey-Read. "Sério mesmo, dois minutos?"
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