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O tradicional prato borsch diz muito sobre a economia russa

Anna Andrianova e Paul Abelsky

28/10/2016 11h37

(Bloomberg) -- Bem-vindo a Bilibino, o lugar mais caro da Rússia para comer.

Os 5.453 resistentes moradores desse posto avançado no extremo leste do país (muito mais perto do Alasca do que da Praça Vermelha) poderiam pensar que já enfrentam problemas suficientes, por exemplo, com as temperaturas, que despencam para 37 graus Celsius negativos no inverno, e com o fato de existirem poucas estradas fora da vila para ir a qualquer lugar.

Como se não bastasse, eles precisam desembolsar o maior valor dentro da Rússia por um prato que é considerado necessidade nacional e uma comida caseira em todo o Leste Europeu: o borsch.

Segundo um novo estudo do Centro para a Reforma Econômica e Política, com sede em Moscou, que realizou pesquisas sobre o custo dos alimentos básicos em 17 cidades do país, a beterraba, a carne bovina, a batata e outros vegetais necessários para cozinhar uma panela de borsch custam cerca de 628 rublos (US$ 10) para o morador de Bilibino.

É mais de quatro vezes o custo dos mesmos ingredientes na capital e 10 vezes a quantia da cidade mais barata pesquisada, Nizhny Novgorod, que fica a sete horas de viagem de Moscou, para o leste.

Essa polarização do custo de vida está lançando luz sobre a "economia dupla" do país, que funciona para alguns, mas não para outros. Embora o desemprego nacional seja de apenas 5 %, em algumas regiões o nível de desocupação dispara para 30% ou mais.

As disparidades nos preços podem ser tão drásticas que o banco central da Rússia iniciou um projeto para analisar as tendências dos preços locais em um esforço para encontrar uma região que pode ser guia para indicar melhor as variações da inflação em todo o país.

E isso é importante para a Rússia agora, com a recessão mais longa do mandato do presidente russo Vladimir Putin se arrastando, sem muitos sinais no horizonte de uma reforma para impulsionar o crescimento.

Bilibino, e a região administrativa na qual está localizada, Chukotka, são um bom exemplo. Mesmo apesar de a região ter sido governada até 2008 por Roman Abramovich, o bilionário dono do clube de futebol Chelsea, a entrega de mantimentos em Bilibino depende principalmente de aviões e não existe nenhuma rede de supermercados.

A situação da vila é obviamente um extremo, mas segundo Nikolay Mironov, chefe do Centro para a Reforma Econômica e Política, é também um símbolo das condições de muitas das 6 milhões de pessoas que moram no extremo leste da Rússia.

"Quanto mais longe você for pior fica, do ponto de vista da variedade e dos preços", disse ele por telefone. "O borsch em Bilibino tem muitos ingredientes que precisam ser entregues. Em Bilibino eles têm que comer frutas vermelhas e carne de veado."