Análise: Dólar vai determinar retorno dos ativos de emergentes
(Bloomberg) -- Animem-se, investidores de mercados emergentes: a comandante do banco central dos EUA, Janet Yellen, está prestes a acelerar o ritmo de aumento dos juros por lá.
É difícil manter o otimismo quando a carteira está derretendo, mas talvez o quadro não seja tão terrível. É preciso lembrar que, isoladamente, os juros dos EUA não vão determinar as taxas de retorno dos ativos de mercados emergentes. Quem fará isso é o dólar.
Uma regressão de 15 anos de dados mensais de câmbio e taxas de retorno de títulos e ações mostra que 79% do MSCI Brasil, 60% da referência para as ações da Rússia e 54% da referência para a Índia são relativos a oscilações no real, rublo e rúpia, respectivamente. Os resultados são parecidos para a renda fixa, segundo índices corporativos do Bank of America Merrill Lynch.
A boa notícia é que, mesmo após o dólar ter atingido sua máxima desde janeiro de 2003 na esteira do anúncio de acréscimo de juros pelo Federal Reserve, a expectativa dos analistas é que a moeda americana se deprecie no ano que vem. A avaliação dos últimos três ciclos de aperto monetário nos EUA também é reconfortante: sempre que o dólar se comportou bem, as ações e os títulos dos mercados emergentes fizeram o mesmo.
Em 1994, quando o Fed elevou a taxa básica de juros de 3% para 5,5% em seis acréscimos, o MSCI Emerging Markets recuou 10,3%. Poderia ter sido pior, não fosse pela política de dólar fraco do governo americano na ocasião --o índice que acompanha a moeda americana caiu 7,2%. Na época, havia menos negócios com ativos de países em desenvolvimento, que eram mais vulneráveis a grandes flutuações, e os mercados ao redor do mundo eram bem menos interconectados.
Talvez o ocorrido na virada do século seja um exemplo melhor do que pode acontecer. Em junho de 1999, Alan Greenspan iniciou um ciclo de altas de juros para ajudar a conter a exuberância irracional dos mercados em meio à bolha da internet. No fim de maio de 2000, a taxa básica estava em 6,5%, ou 175 pontos-base acima de onde estava apenas um ano antes. No último ano da década, o dólar se comportou bem, preservando os mercados emergentes.
Mas no segundo trimestre de 2000, o dólar disparou e as ações de países em desenvolvimento derraparam. Em dezembro daquele ano, o MSCI Emerging Markets acumulava queda de 26% e a moeda americana havia se apreciado 3,9%.
Talvez o melhor dos ciclos de aperto monetário dos últimos 30 anos tenha sido aquele iniciado em 2004. No período de dois anos em que Greenspan elevou a taxa básica de juros de 1% para 5,25% --logo antes de passar a presidência do Fed a Ben Bernanke--, o MSCI Emerging Markets deu um salto de 73,3%. O que aconteceu? O dólar se desvalorizou 4,2% na mesma época.
A ressalva é que o índice que acompanha o dólar subiu 3,6% neste ano e alcançou seu maior nível desde janeiro de 2003 após o Fed ter subido a taxa básica em 25 pontos-base, na quarta-feira. Enquanto isso, o MSCI Emerging Markets avançou 8,6% desde o começo de janeiro e o índice Bloomberg Barclays Emerging Markets Hard Currency deu retorno de 8,5%.
Uma possível explicação é que os ativos de países em desenvolvimento vieram de cinco anos de desvantagem em relação ao resto do mundo, portanto havia espaço para recuperação, apesar do dólar forte.
E com os analistas prevendo depreciação do dólar, talvez existam razões para otimismo, até porque o fortalecimento da economia americana beneficia os mercados emergentes.
Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.
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