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Análise: Problemas do setor farmacêutico nos EUA piorarão em 2017

Max Nisen

29/12/2016 11h34

(Bloomberg) -- A história que definiu os últimos 12 meses do setor biofarmacêutico foi a dos preços dos medicamentos, apesar de que o setor não gostaria que fosse assim.

Porém, embora grande parte da ansiedade tenha sido provocada por críticas de cunho político e pela possibilidade de restrições aos preços pelos governos, a única verdadeira pressão sobre os preços nos EUA veio do setor privado.

Os gerentes de benefícios farmacêuticos se tornaram mais agressivos na recusa a cobrir certos medicamentos e na negociação de descontos, fato que acarreta que os aumentos de preços anuais e bienais do setor biofarmacêutico para medicamentos velhos já estejam longe de serem os motores de vendas de antes.

É improvável que este fenômeno se mantenha em calma por muito mais tempo, já que a pressão está crescendo, assim como os impactos negativos em algumas das maiores empresas e remédios do setor.

O exemplo mais completo do fenômeno é o mercado de diabetes.

Trata-se de um ambiente perfeito para a pressão sobre os preços do pagador. Milhões de americanos padecem a doença, portanto há um importante incentivo para diminuir custos. Há muitas drogas em cada categoria de tratamento, o que permite que os pagadores façam com que as empresas se enfrentem entre si para extrair descontos.

Cópias mais baratas de medicamentos populares estão começando a atingir o mercado; por exemplo, a CVS Health fará algo sem precedente nos EUA no ano que vem ao trocar o Lantus, da Sanofi, por uma imitação da Eli Lilly & Co. Muitas insulinas têm anos e sofreram uma redução no crescimento dos volumes de vendas nos EUA.

A única forma com que as empresas geram qualquer tipo de crescimento das vendas neste ambiente é com aumentos constantes nos preços de lista. As vendas pré-desconto nos EUA da insulina mais vendida da Eli Lilly, a Humalong, dispararam, apesar de que o número real de receitas feitas caiu.

Mas os descontos que a Lilly está pagando para manter a participação no mercado acarretam que sua receita real nos EUA esteja começando a declinar apesar dos aumentos dos preços.

Outras empresas em classes de drogas com muitos produtos que dependem de aumentos de preços em vez do volume para aumentar a receita deveriam se preocupar muito com isso.

Um grupo de remédios de grande sucesso para condições inflamatórias como a artrite provavelmente será o próximo a sofrer uma forte pressão sobre os preços. Projeta-se que juntos, os três maiores medicamentos do grupo, o Humira, o Remicade e o Enbrel, representem mais de US$ 30 bilhões em vendas neste ano.

A Amgen, fabricante do Enbrel - que segundo projeções de Wall Street terá vendas por quase US$ 5,8 bilhões neste ano - admitiu em sua conferência sobre o balanço para o terceiro trimestre em outubro que as vendas da droga não receberiam muito impulso dos aumentos de preços em 2017.

É o que se exprime dos dados: Ao subir os preços de lista, a Amgen conseguiu dar impulso às vendas pré-desconto apesar da diminuição do volume, mas as vendas pós-desconto estagnaram.

O Remicade, da Johnson & Johnson, o segundo maior remédio contra a inflamação, com quase US$ 7 bilhões em vendas projetadas para este ano, começará a enfrentar a concorrência de drogas de imitação nos EUA. Isso não apenas afeta a J&J, também baixará os preços da classe inteira.

O Humira, da AbbVie Inc. - o anti-inflamatório mais popular, do qual os analistas projetam US$ 17 bilhões em vendas para o ano que vem - está em uma posição um pouco melhor que a da concorrência, e seus volumes de vendas ainda crescem.

Mas o Humira também utiliza altas de preços para dar impulso ao crescimento da receita. O preço de lista de um Humira Pen mais do que dobrou desde 2012.

Além disso, a AbbVie depende muito dele, que segundo projeções responderá por mais de 60% da receita da empresa neste ano.

Um declínio estrutural no poder de precificação nos EUA é de mau agouro para qualquer empresa farmacêutica - em particular se isso se espalhar para drogas novas, ou para áreas que tradicionalmente têm um forte poder de precificação, como a oncologia.

Novos remédios muito eficazes contra o colesterol da Amgen e da Sanofi/Regeneron tiveram lançamentos notavelmente lentos desde sua aprovação em 2015, como resultado dos obstáculos para os pacientes, provocados pelos custos.

Enquanto isso, o mercado para remédios caros contra o câncer que reforçam o sistema imunológico --dominado pela Merck & Co. e pela Bristol-Myers Squibb no começo de 2016-- recebeu um novo concorrente neste ano, a Roche Holding. A Pfizer e a AstraZeneca poderiam entrar no ano que vem. Contar com cinco medicamentos parecidos no mercado tornaria quase inevitável a pressão sobre os preços.

Essas tendências ganharam força discretamente em 2016, e 2017 nos dará uma sensação mais clara do quanto longe elas irão. Essa, independentemente do que Donald Trump decidir fazer, bem poderia ser a história que definirá o ano do setor biofarmacêutico.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.