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Computador supera jogadores profissionais de pôquer

Joshua Brustein

31/01/2017 13h53

(Bloomberg) -- Quatro dos melhores jogadores profissionais de pôquer do mundo passaram a maior parte de janeiro enfurnados no Rivers Casino, em Pittsburgh, perdendo. Eles chegavam antes das 11 horas da manhã, vestindo moletom e tênis estilosos, e se sentavam em frente a telas de computador. Cada um deles deveria jogar 1.500 mãos de Texas Hold'Em mão a mão sem limite na internet antes de poder voltar para passar a noite no hotel. Muitas vezes, isso significava trabalhar até depois das 22 horas. Ao longo do dia, copos do Starbucks e garrafinhas de água se acumulavam perto do teclado dos jogadores. Sacos de comida do Chipotle se empilhavam no chão.

Cada vez que um dos jogadores fazia uma jogada, a ação era transmitida a um servidor de computador a 8 quilômetros dali, na Universidade Carnegie Mellon. De lá, um sinal viajava outros 19 quilômetros até o oponente, um software chamado Libratus, executado no Centro de Supercomputação de Pittsburgh, em Monroeville, um subúrbio próximo. O Libratus jogava oito mãos ao mesmo tempo -- duas contra cada oponente. Ele se movia a um ritmo deliberado, lento o suficiente para irritar um pouco Jason Les, um de seus oponentes humanos. "Isso deixa os dias mais longos", disse Les, um homem franco de aparência atlética que parecia ansioso por alguns minutos de descanso em uma tarde da semana passada. "A espera não deveria me afetar, mas às vezes você se pergunta quando isso vai acabar."

Libratus, é claro, nunca precisa de um descanso. Ele é diferente dos jogadores humanos também por outros motivos. As pessoas tendem a pensar por mais tempo quando há mais dinheiro em jogo. O computador joga mais lentamente quando as apostas são pequenas, por ter que analisar todas as possibilidades adicionais de ter mais fichas restantes em sua mão. Libratus também tende a fazer apostas grandes e repentinas, violando as convenções tradicionais de apostas ao jogar seu dinheiro no "pot" em quantidades irregulares e em intervalos estranhos.

Vindo de um jogador humano, esse comportamento seria irritante, imprudente e, depois de um tempo, caro. Mas o principal atributo do Libratus como jogador de pôquer é que ele é inumanamente bom. Quando o torneio de 20 dias no Rivers acabou, na segunda-feira, os jogadores humanos haviam perdido US$ 1,8 milhão (eles não tiveram que desembolsar essa grana; o dinheiro funciona como modo de contabilizar pontos no pôquer). Tuomas Sandholm e Noam Brown, os cientistas da Carnegie Mellon que montaram Libratus, comemoraram a vitória como a primeira vez em que um computador venceu jogadores de pôquer de alto nível em uma variante sem limites de Texas Hold'Em, o jogo de pôquer mais importante do mundo.

Especialistas em inteligência artificial sempre usaram os jogos como um meio de desenvolver e testar suas criações. Computadores superaram os melhores jogadores humanos em xadrez, damas, gamão e go. Pôquer representa um desafio diferente por causa do elemento da sorte e porque os jogadores não sabem quais cartas os oponentes têm na mão. Os chamados jogos de informação imperfeita exigem um tipo de inteligência humana -- como enganar um oponente e perceber quando está sendo enganado -- que os computadores não têm.

"É claro que muita gente do mundo do jogo tem medo de que isso possa acabar com os jogos em que se aposta dinheiro pela internet, porque as pessoas temem que o computador seja tão bom a ponto de conseguir enganá-las", disse Sandholm. "Isso poderia acontecer, mas não é problema meu."