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Com apenas 100 dias restantes de água, Cidade do Cabo pode secar

Mike Cohen, Paul Vecchiatto e Scarlet Fu

17/03/2017 13h19

(Bloomberg) -- A Cidade do Cabo, joia da coroa da indústria do turismo da África do Sul, tem abastecimento de água garantido por apenas 100 dias.

Após dois anos com o menor índice de chuva da história, o nível médio das seis principais represas que abastecem a cidade de 3,7 milhões de habitantes ficou abaixo de 30 por cento, um dos menores já registrados. Os últimos 10 por cento de água do reservatório são inutilizáveis e é cada vez maior o risco de que torneiras e canos deixem de funcionar antes do início da estação de chuvas de inverno, que normalmente começa em maio ou junho.

Mesmo que a oferta se estenda até lá, podem ser necessárias fortes chuvas para evitar interrupções nos próximos dois anos na segunda maior cidade da África do Sul. A cada ano mais de 850.000 pessoas da região e do exterior chegam por meio do aeroporto internacional à Cidade do Cabo, considerada pelo jornal britânico Telegraph o melhor destino urbano dos últimos quatro anos.

"Estamos em uma crise real", disse a prefeita da Cidade do Cabo, Patricia de Lille, em entrevista à Bloomberg Television, na conferência Women4Climate, em Nova York, em 8 de março. "As pessoas terão que mudar a maneira de fazer as coisas: só se pode economizar água quando se tem água."

A câmara municipal impôs restrições à água, incluindo a proibição de usar mangueiras para irrigar jardins e encher piscinas, e multou aqueles que violaram as regras. Além disso, reduziu a pressão da água e ampliou os esforços de combate a vazamentos. Essas medidas ajudaram a reduzir o consumo médio diário no verão de 1,1 bilhão de litros por dia, há um ano, para 751 milhões de litros, volume ainda distante da meta da cidade, de 700 milhões de litros.

Diversificação da oferta

As autoridades da Cidade do Cabo deveriam ter se esforçado mais para diversificar a oferta de água e implementado projetos para uso de esgoto e efluentes tratados, disse Kevin Winter, professor e especialista em água do Departamento de Ciência Ambientais e Geográficas da Universidade da Cidade do Cabo.

"Noventa e oito por cento da água vem de represas, é uma loucura", disse ele. "Usamos água não tratada de alta qualidade para tudo o que se possa imaginar."

A falta de água e os esforços para conservá-la ficam evidentes com os jardins e parques secos da cidade e com o fechamento da maior parte das piscinas municipais. Muitos dos mais de 3,7 milhões de habitantes da cidade têm usado água de banhos e chuveiros para dar descarga no vaso sanitário e para tentar manter as plantas vivas. Os fornecedores de poços e de equipamentos que captam a água escoada pelas máquinas de lavar roupas e pelos banheiros, conhecida como água cinza, estão fazendo muitos negócios.

Os governos municipal e federal estão implementando e estudando diversos projetos para ampliar o abastecimento de água, segundo De Lille.
"A cidade provavelmente escapará nesta estação, mas pode não ter a mesma sorte nos próximos anos", disse Winter. "A previsão é de que a água acabará até 2019. Essa seca serviu de alerta para a cidade."