IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Mundo está prestes a ser inundado de algodão

Marvin G. Perez

29/05/2017 12h15

(Bloomberg) -- O mundo está prestes a ser inundado de algodão. Os agricultores estão aproveitando os preços elevados para produzir mais e a China está saturando o mercado com a oferta excedente de seu estoque estratégico.

A produção global aumentará 6,9 por cento na safra que começa em 1º de agosto, ajudando a elevar os estoques fora da China a um patamar recorde, estima o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). Os fazendeiros americanos, que são os maiores exportadores mundiais, deverão registrar sua maior colheita em uma década e são esperadas safras maiores na Austrália e na maior produtora, a Índia.

Os agricultores plantaram mais hectares depois que os contratos futuros do algodão deram um salto de 12 por cento no ano passado, quando a maior parte das demais culturas estava em baixa. Ao mesmo tempo, não há sinais de desaceleração das vendas dos estoques estatais da China. Com a perspectiva de oferta ampla, os preços caminham para a maior queda mensal desde agosto. Os hedge funds estão deixando de projetar alta e reduzindo as apostas pela segunda vez em três semanas.

"O lado da oferta deve continuar amplo e se virmos a produção acelerar, o algodão verá mais prejuízos", disse Lara Magnusen, gerente de portfólio em La Jolla, Califórnia, da Altegris Advisors, que administra US$ 2,43 bilhões. No lado da demanda, um rebaixamento recente da dívida da China gerou o temor de que a demanda global "não seja suficiente" para absorver a produção adicional.

Posição comprada

Os gestores de recursos reduziram em 8,7 por cento sua posição comprada para o algodão, ou seja, a diferença entre as apostas no aumento do preço e as apostas no declínio, para 95.904 contratos futuros e de opções no período de uma semana até 23 de maio, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA divulgados três dias depois. Este é o nível mais baixo em um mês.

Os futuros do algodão caíram 7,7 por cento em maio e se fixaram na sexta-feira em 72,79 centavos de dólar por libra-peso na ICE Futures U.S. em Nova York. Os preços caminhavam para o primeiro prejuízo mensal desde dezembro.

O USDA projeta que o mercado registrará um terceiro déficit consecutivo, embora menor, na safra 2017-2018, mas a empresa de pesquisa Cotlook prevê um superávit. A companhia com sede em Birkenhead, Inglaterra, estima que a produção superará a demanda em 44.000 toneladas.

O clima favorável tem ajudado a semeadura de primavera dos EUA, especialmente no Texas, o principal produtor. Até 21 de maio, os fazendeiros americanos haviam semeado 52 por cento das plantações projetadas, contra 45 por cento no ano anterior.

Índia e Brasil

A produção também parece favorável na Índia, a maior produtora global. Na Austrália e no Brasil, a mecanização maior está ampliando a produção e permitindo que os fazendeiros compitam com os EUA em qualidade.

A China continua se desfazendo de seu estoque para abastecer o mercado interno, diminuindo a perspectiva para a demanda do maior consumidor mundial. Em leilão realizado na sexta-feira, o país vendeu 13.700 das 29.500 toneladas oferecidas, segundo o website da empresa estatal China National Cotton Information Center.