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Empresa desiste de 'carvão limpo' nos EUA e adota gás natural

Mark Chediak e Ryan Collins

29/06/2017 11h59

(Bloomberg) -- Primeiro vieram o mau tempo e a desaceleração da indústria construção. Depois, a queda dos preços do gás natural. De repente o equipamento entupiu e surgiram vazamentos. Apareceram falhas de engenharia.

Na quarta-feira, a construtora da primeira usina de energia a "carvão limpo" dos EUA anunciou a desistência do carvão e informou que, no lugar, decidiu usar gás para operar.

Sete anos atrás, o projeto Kemper da Southern prometia garantir um futuro para o carvão na matriz energética dos EUA. A usina deveria transformar a pedra em gás e o gás em eletricidade, tudo isso mantendo as emissões que causam o aquecimento global fora do ar -- ou pelo menos essa era a ideia quando o governo dos EUA destinou US$ 382 milhões em subsídios ao projeto e o então secretário de Energia Steven Chu ressaltou sua "importância nacional". Agora, o único motivo para fama da Kemper será, possivelmente, ser a usina de gás natural mais cara já construída.

Considere isso mais um sinal dos tempos. A explosão do xisto liberou tanto gás natural que inundou os mercados e derrubou os preços para o menor nível desde a década de 1990. Isso espremeu até mesmo os lucros das antigas usinas de carvão que já estão em operação e não foram projetadas, como a Kemper, para capturar emissões.

Os órgãos reguladores do estado do Mississippi, que durante anos suportaram os atrasos da Kemper, finalmente adotaram uma postura na semana passada ao exortarem a empresa a abandonar sua "tecnologia não comprovada" e simplesmente usar gás. Eles deixaram claro que os clientes não deveriam ser sobrecarregados com mais custos.

Devido ao valor de US$ 7,5 bilhões do projeto, que cresce a cada mês, a Southern decidiu na quarta-feira que a suspensão da parte do carvão do projeto era a decisão "prudente" a se tomar.

Para ser justo, a usina Kemper foi concebida em uma época diferente para a energia americana. Os preços do gás natural estavam em ascensão e a crença era de que o combustível se tornaria escasso. A construção de parques de energia solar e eólica ainda era cara. Uma planta capaz de transformar carvão extraído localmente em gás e depois capturar as emissões de carbono era vista como uma proteção valiosa contra os preços voláteis das commodities. A tecnologia também poderia ser comercializada para outros países, como a China, como forma de usar carvão com menor emissão.

Em entrevista concedida no ano passado, o CEO da Southern, Tom Fanning, disse que "ninguém poderia ter previsto, quando esta usina foi encomendada", que a proliferação do fraturamento hidráulico nas formações de xisto traria tanta oferta de gás.

A esta altura, William Nelson, analista da Bloomberg New Energy Finance, diz: "Não é surpresa ver a estratégia de carvão limpo da Kemper abandonada, dados os aspectos econômicos subjacentes."

Os desafios da Kemper também decorriam da grande aposta em uma tecnologia nova. Em 2010, quando os órgãos reguladores do Mississippi aprovaram o projeto, apenas cerca de 10 por cento da engenharia estava concluída, deixando "uma certa incerteza", segundo Fanning.

Três semanas atrás, a Southern reportou falhas na usina que exigiriam até dois anos para redesenhar e substituir "superaquecedores" devido ao surgimento de vazamentos.

Desistir do carvão da Kemper é um duro golpe para os defensores da tecnologia do "carvão limpo" -- do tipo que o governo do presidente Donald Trump apontou como forma de salvar empregos no setor de mineração.