Grandes empresas apoiam Carney em luta sobre mudança climática
(Bloomberg) -- O comandante do Banco da Inglaterra, Mark Carney, conseguiu o compromisso de mais de 100 presidentes de empresas para elevar os padrões de divulgação de informações para combater o risco de mudança climática.
Companhias com valor de mercado somado de mais de US$ 3,3 trilhões - equivalente ao PIB anual da Alemanha - apoiaram o relatório final de Carney sobre a mudança climática, publicado nesta quinta-feira. Como presidente do Conselho de Estabilidade Financeira (Financial Stability Board ou FSB), que aconselha países do Grupo dos 20 sobre política econômica, Carney alertou que a mudança climática é uma "tragédia no horizonte", com impactos que vão além dos critérios de curto prazo que bancos, gestoras de recursos e seguradoras costumam utilizar.
"A adoção disseminada dará a investidores, bancos e seguradoras essas informações, ajudando a minimizar o risco de os ajustes dos mercados à mudança climática ficarem incompletos, atrasados e potencialmente desestabilizadores", afirmou Carney em comunicado.
Pouco antes das negociações para o Acordo de Paris, em 2015, o G-20 pediu que Carney elaborasse um estudo sobre os riscos financeiros implícitos no aquecimento global. O apoio de presidentes de empresas como Royal Dutch Shell, PepsiCo, Bank of America e Dow Chemical pode ajudar o Conselho de Estabilidade Financeira a atenuar o impacto da decisão do presidente Donald Trump de retirar os EUA do tratado histórico.
"As companhias precisam ser claras sobre como planejam resistir diante da mudança climática e da transição energética", afirmou em comunicado o presidente da Shell, Ben van Beurden. "É certo que fique transparente quais empresas têm bases verdadeiramente firmes no longo prazo."
O que não se sabe é como a decisão de Trump de incentivar os combustíveis fósseis e sair do Acordo de Paris afetará como o G-20 lida com o trabalho de Carney na cúpula anual que acontecerá na Alemanha na semana que vem.
Estas são algumas das conclusões de Carney que receberam o apoio dos executivos:
- Empresas impactadas pela mudança climática precisam conduzir análises de cenário e incluir os resultados em suas demonstrações financeiras;
- Companhias precisam mostrar como seus lucros podem ser afetados por regras mais rígidas sobre poluição e eventos climáticos extremos causados pela mudança climática;
- Os setores de mineração, energia e agricultura devem considerar análises de cenário em demonstrações não financeiras, mesmo se não enxergarem impacto financeiro direto da mudança climática.
A divulgação de informações sobre a situação climática tornou-se uma preocupação importante dos investidores nos últimos meses, a despeito das medidas governamentais, disse Mark Lewis, diretor-gerente do Barclays e integrante da força-tarefa.
"Está acontecendo e, com os riscos financeiros que envolvem a mudança climática, chegou a hora de esta ideia ser colocada em prática", disse Lewis.
Neste ano, é recorde o movimento de acionistas que derrubam decisões de diretorias de empresas em questões climáticas. Acionistas apoiaram propostas relativas a mudanças climáticas em empresas como Exxon Mobil, PPL e Occidental Petroleum.
Produtoras de combustíveis fósseis como Peabody Energy e Exxon entraram em conflito com o procurador geral do Estado de Nova York, Eric Schneiderman, sendo acusadas de não informarem adequadamente os investidores sobre os riscos climáticos que enfrentam.
Desde a publicação de uma versão preliminar do relatório pelo Conselho de Estabilidade Financeira, em dezembro, o painel expandiu recomendações sobre a remuneração de executivos, pedindo que todas as empresas vinculem esses pagamentos ao desempenho em temas relacionados ao clima.
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