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Por que os americanos não abrem mão dos cheques?

Katie Robertson

26/07/2017 14h11

(Bloomberg) -- A primeira vez que Amelia Howells teve que preencher um cheque, ela tinha 28 anos e estava em uma imobiliária em Connecticut, nos EUA, e não tinha a menor ideia de como fazer aquilo.

A expatriada britânica tinha acabado de se mudar para os EUA; ela nunca tinha tido que fazer um cheque em Londres nem durante os sete anos que morou na Suíça.

"Uma mulher teve que me ensinar. Ela achou aquilo engraçado e chamou o pessoal do escritório para eles se divertirem um pouco", lembra. "Na Suíça, eles nem sequer têm cheques. Nós pagamos todos os nossos aluguéis e serviços pela internet e isso desde o início dos anos 2000."

Em uma era de smartphones, bancos on-line e transferências por Venmo, parece que os EUA ainda não conseguem se livrar dos cheques de papel. Na maioria dos países, os talões de cheque seguiram o mesmo caminho da máquina de fax e do telefone de disco. Mas eles não vão desaparecer dos EUA tão cedo.

Os americanos recorrem ao talão de cheques mais do que os habitantes de outros países. Em 2015, cada americano fez, em média, 38 transações com cheque, de acordo com dados do Banco de Compensações Internacionais, o órgão de coordenação dos bancos centrais do mundo. A quantidade se compara com cerca de 18 no Canadá, apenas 8 no Reino Unido e quase zero na Alemanha. O único país com um número próximo ao dos EUA é a França.

É claro que existem alternativas de pagamento mais baratas, mais rápidas e mais eficientes. As transações eletrônicas são efetuadas rapidamente -- sem precisar de selo nem de envelope -- e custam para os usuários um décimo do custo do processamento de cheques. (Em 2015, uma pesquisa da Associação de Profissionais Financeiros com empresas fixou o custo médio de emissão de um cheque em US$ 3, em comparação com menos de US$ 0,30 de uma transação eletrônica). Isso sem levar em consideração o custo da substituição de cheques pessoais, que pode custar ao consumidor mais de US$ 20. O uso de aplicativos de pagamento entre pares para transferir dinheiro entre contas-correntes não é sujeito a taxas.

Os cheques estão em declínio nos EUA desde meados da década de 1990, mas até dez anos atrás eles continuavam sendo o método de pagamento favorito dos americanos, além do dinheiro em espécie. E, embora os pagamentos eletrônicos, os cartões de débito e os cartões de crédito sejam mais populares hoje em dia, a taxa de declínio dos cheques desacelerou, de acordo com um estudo sobre pagamentos realizado pelo Federal Reserve no ano passado.

Os bancos estão tentando empurrar os consumidores para serviços bancários móveis mais baratos e rápidos e serviços peer-to-peer, como o Venmo e o PayPal, mas os americanos mais velhos ainda não estão totalmente convencidos. Uma pesquisa do Fed de 2015 descobriu que apenas 18 por cento dos usuários de smartphones de 60 anos ou mais já tinham utilizado o banco móvel, em comparação com 5 por cento em 2011. E um relatório mais recente do Bank of America revelou que 62 por cento da geração milênio usavam serviços peer-to-peer, mas apenas 20 por cento da geração pós-guerra e 10 por cento dos idosos os usavam. No entanto, 71 por cento dos entrevistados acreditavam que as crianças de menos de 10 anos nunca teriam que aprender a preencher um cheque.

Para entrar em contato com o repórter: Katie Robertson em N York, krobertson21@bloomberg.net.

Para entrar em contato com a editora responsável: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.

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