Opinião: Receita zero por US$ 1,4 bi. Que remédio é esse?
(Bloomberg) -- As empresas chinesas com ações negociadas nos EUA têm sido atormentadas por preocupações sobre governança corporativa e por uma série de escândalos contábeis.
Por isso, poderíamos supor que uma nova geração de empresas muitas vezes com receita zero e avaliações baseadas apenas nas promessas de um futuro brilhante seria difícil de vender. Mas não é o caso.
Uma série de empresas chinesas de biotecnologia está começando a chegar aos mercados globais -- e os investidores não se fartam delas.
A Zai Lab, uma fabricante de remédios biológicos com sede em Xangai, subiu 54 por cento na Nasdaq depois que levantou US$ 172 milhões na semana passada. Enquanto isso, a WuXi Biologics (Cayman), a maior organização de pesquisa e produção terceirizada desses produtos farmacêuticos no país, avançou 84 por cento em Hong Kong após uma oferta pública inicial de US$ 586 milhões em junho.
Mais empresas estão se preparando para entrar nesse grupo. A Xynomic Pharmaceuticals, uma startup que está desenvolvendo medicamentos contra o câncer, planeja negociar ações nos EUA ou em Hong Kong ainda neste ano. A Ascentage Pharma Group, também especializada em tratamentos contra o câncer, pretende captar US$ 100 milhões.
A última empresa a abrir seu capital já exibe o traço característico das empresas de biotecnologia -- avaliações alucinantes. A Zai Lab, uma empresa que não tem receita, atualmente tem capitalização de mercado de US$ 1,4 bilhão. A WuXi Biologics, que registrou receita de US$ 181 milhões no ano passado, é negociada a 114 vezes seus lucros estimados de 2017.
Os fundadores das duas empresas não são exatamente desconhecidos nos EUA. Ambos são hai gui, ou "tartarugas marinhas", como são conhecidos os expatriados que retornam à China. Samantha Du, da Zai Lab, concluiu seu doutorado em bioquímica na Universidade de Cincinnati, trabalhou na Pfizer e foi diretora científica durante uma década na Hutchison China MediTech, cujas ações são negociadas na Nasdaq, antes de criar a farmacêutica de Xangai. O fundador da WuXi Biologics, Ge Li, tem doutorado em química orgânica pela Universidade de Columbia.
A WuXi Biologics é um braço de terceirização da WuXi PharmaTech (Cayman Inc.), cujas ações eram negociadas na Bolsa de Valores de Nova York antes da aquisição por US$ 3,3 bilhões liderada pela diretoria, em dezembro de 2015. Graças às relações de sua empresa controladora no exterior, a WuXi Biologics cresceu rapidamente e lista 12 das 20 maiores empresas farmacêuticas do mundo como clientes.
O entusiasmo dos investidores pela nova safra de empresas chinesas de biotecnologia pode ser atribuído, pelo menos em parte, à escassez. Nos EUA, continuam faltando IPOs de empresas de biotecnologia, embora as ofertas subsequentes de ações (follow on) tenham se recuperado e retornado aos níveis do fim de 2015. No terceiro trimestre, apenas quatro tiveram preços fixados, sendo o maior deles o da Zai Lab.
Já em Hong Kong, não houve ofertas de ações de empresas de biotecnologia desde o IPO de US$ 817 milhões da 3SBio em 2015.
As empresas de biotecnologia em estágio clínico, por definição, não possuem receita com produto. O aumento da demanda por essas ações mostra que os investidores dos EUA estão ficando mais confiantes de que suas perspectivas de negócios são reais.
As ações da BeiGene mais que triplicaram de valor desde que a desenvolvedora chinesa de medicamentos oncológicos abriu seu capital, em fevereiro do ano passado, garantindo um valor de mercado de US$ 3,7 bilhões. A Hutchison China MediTech, com sede em Hong Kong, subiu 97 por cento em 18 meses. Ambas as empresas melhoraram o desenvolvimento de medicamentos desde que venderam ações, segundo Laura Nelson Carney, da Bernstein Research.
A BeiGene, em particular, recebeu um selo de aprovação da farmacêutica norte-americana Celgene em julho. Além de investir US$ 150 milhões na BeiGene, a Celgene prometeu desenvolver e comercializar os novos medicamentos da empresa contra o câncer.
Até o momento tem dado tudo certo para as novas empresas de biotecnologia da China. Agora, elas só precisam cumprir o que prometem.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.
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