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Amazon pode conceder empréstimos e sacudir Wall Street: Gadfly

Lisa Abramowicz

09/10/2017 14h00

(Bloomberg) -- A Amazon.com mudou profundamente a maneira de vender roupas e livros e agora mira a compra de alimentos. Seu próximo projeto pode muito bem estar sendo desenvolvido no coração de Wall Street.

A gigante da tecnologia manteve diversas conversas com órgãos reguladores do setor bancário nos últimos dois anos a respeito de um amplo leque de assuntos, incluindo "inovação financeira", segundo declarações de lobby analisadas pelo American Banker. A empresa já tem uma operação de empréstimos criada em 2011 para apoiar os comerciantes que vendem em seu mercado. A unidade vem se tornando cada vez mais popular, a tal ponto que originou US$ 1 bilhão em empréstimos em um período de 12 meses.

Enquanto isso, novos reguladores bancários dos EUA parecem mais dispostos a considerar a ideia de conceder autorizações de operação bancária a empresas não tradicionais, abrindo-as a mais negócios antes reservados a centros financeiros tradicionais. Por exemplo, a controladora interina da moeda, Keith Noreika, discursou na Online Lending Policy Summit, em Washington, no fim de setembro, e falou amplamente sobre o apoio à inovação financeira, particularmente no que diz respeito a empresas não tradicionais.

"Eu vejo o crescimento dos empréstimos on-line e dos mercados on-line credores como a evolução natural do próprio setor bancário", disse ele. "Muitas vezes o ônus regulatório fica no caminho da oportunidade econômica."

A conversa parecia estar voltada a empresas como Social Finance e Lending Club, mas evoluiu rapidamente para as grandes empresas de tecnologia e abordou como a abrangência delas poderia evoluir para as finanças. A ideia não é nova, mas ganhou um grau maior de imediatismo com o novo governo. As empresas baseadas na internet que a maioria das pessoas associam com o empréstimo P2P não têm tanto capital e têm sido desafiadas por problemas de liderança e de crédito. Elas certamente poderiam apresentar uma nova maneira de fazer negócios para os grandes bancos, mas não representam uma ameaça real e iminente a Wall Street.

Com as grandes empresas de tecnologia é diferente. Se uma Amazon ou uma Alphabet, a empresa controladora do Google, realmente quisesse criar uma plataforma de empréstimos on-line ou um sistema de trading de títulos, poderia representar uma concorrência séria às instituições financeiras existentes.

"A Amazon tem ambições muito amplas", disse Ram Ahluwalia, fundador da PeerIQ, uma startup que monitora empréstimos originados em sistemas on-line. Ele participou do encontro sobre empréstimos on-line do mês passado e observou que muitas pessoas falavam sobre a possibilidade de grandes empresas de tecnologia investirem mais em serviços financeiros, incluindo reguladores.

A Amazon não é a única. Outras empresas, como PayPal e Google, também estudam ideias para o setor bancário. Na verdade, elas uniram forças, criando uma associação de lobby denominada "Financial Innovation", segundo o American Banker.

A Amazon, no entanto, está em uma posição única para transformar a noção de Wall Street, especialmente porque a gigante da tecnologia coleta dados sobre seus usuários e acumula um público cada vez maior. A empresa poderia repensar a forma de realizar processos básicos, reduzir ainda mais os custos e gerar rapidamente uma massa crítica para atividade de trading em plataformas eletrônicas. A gigante da tecnologia é conhecida por sacrificar margens maiores para ganhar negócios com preços mais baixos, e isso funcionaria muito bem no ramo de finanças.

Desta forma, as grandes empresas de tecnologia dos EUA seguiriam o exemplo da China, onde a Alibaba e a Tencent Holdings já se transformaram em grandes credoras, usando os dados de seus clientes em benefício próprio.

Wall Street ainda não foi ameaçada de verdade por uma empresa geradora de uma revolução digital. Mas tem motivos para temer a Amazon.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.