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Farmacêutica é investigada nos EUA por marketing de analgésico

Esmé E. Deprez

26/10/2017 16h57

(Bloomberg) -- Promotores federais de Connecticut, nos EUA, iniciaram uma investigação criminal a respeito do marketing feito pela Purdue Pharma para o controverso analgésico opioide OxyContin.

A promotora Deirdre Daly está reunindo documentos relacionados à alegação da Purdue de que o OxyContin oferece 12 horas de alívio da dor. Uma investigação do jornal Los Angeles Times, publicada no ano passado, descobriu que a Purdue ignorou evidências que mostravam que os efeitos do medicamento não duram tanto tempo assim em alguns pacientes, o que aumenta o risco de abstinência, abuso e dependência.

"A Purdue está empenhada em fazer parte da solução para a crise dos opioides no nosso país e está cooperando com a investigação da promotora dos EUA", disse o porta-voz da empresa, Robert Josephson, por e-mail. "Manteremos essa postura até que o assunto esteja resolvido."

A Purdue é apontada como a maior vilã de uma onda de ações judiciais de governos dos EUA que tentam responsabilizar fabricantes e distribuidoras de opioides pela epidemia que está matando milhares de pessoas e gerando custos de bilhões de dólares por ano à economia dos EUA. Dez estados e dezenas de cidades e condados processaram empresas como Purdue, Endo International e Janssen Pharmaceuticals, da Johnson & Johnson, acusando-as de desencadear a epidemia ao minimizarem os riscos de dependência e overdose de analgésicos como OxyContin e Percocet.

A Purdue, que tem sede em Stamford, Connecticut, inventou várias técnicas agressivas de marketing que transformaram o OxyContin em um medicamento de sucesso, ferramentas que as ações dos governos agora tentam proibir.

Tom Carson, porta-voz de Daly, preferiu não comentar sobre a investigação.

A Purdue encerrou uma acusação criminal federal em 2007. A empresa e três de seus principais executivos se declararam culpados por "erro de rotulagem" do OxyContin e coletivamente concordaram em pagar mais de US$ 630 milhões em penalidades civis e criminais em um dos maiores acordos da história dos EUA de uma farmacêutica com a Justiça. A empresa reconheceu especificamente que treinou representantes de vendas a induzirem médicos ao erro no tocante aos riscos dos opioides.

A Purdue promovia o substituto da morfina sintética como um analgésico de baixo risco, segundo documentos judiciais, apesar de a droga ser um narcótico formador de hábito derivado da papoula do ópio.

Os executivos processados, o ex-CEO Michael Friedman, o conselheiro-geral Howard Udell e o diretor médico Paul Goldenheim, não cumpriram pena de prisão e foram condenados a prestar serviços comunitários em centros de reabilitação de drogas.

Purdue enfatizou que a declaração de culpa engloba apenas as más condutas de 1995 a 2001. "Aceitamos a responsabilidade por essas distorções passadas e lamentamos que tenham ocorrido", anunciou a empresa à época.

A Purdue é uma empresa de capital fechado e não divulga informações financeiras, mas a corretora Sanford C. Bernstein estima que o OxyContin, sozinho, tenha gerado US$ 1,3 bilhão em receitas em 2016. A Purdue também é foco de uma investigação do Congresso dos EUA liderada pela senadora democrata Claire McCaskill, do Missouri, que está exigindo documentos e informações relacionados às estratégias de vendas, marketing e educação usadas por fabricantes de opioides para a promoção de analgésicos.

--Com a colaboração de Chris Dolmetsch e Jef Feeley