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Venda recorde de Da Vinci estimula especulações sobre comprador

Katya Kazakina e Nafeesa Syeed

11/12/2017 14h18

(Bloomberg) -- Mais um dia, mais um nome famoso surge como responsável pela aquisição de "Salvator Mundi", de Leonardo da Vinci, pelo preço recorde de US$ 450 milhões.

Em apenas três dias, dois príncipes e um emirado foram citados como comprador, adquirente ou comprador por procuração -- dependendo de quem afirmava.

Em meio a informações conflitantes, o Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi emitiu comunicado na sexta-feira informando que adquiriu a pintura para ser exposta no novo museu do país, o Louvre Abu Dhabi. A Christie's, casa de leilões responsável pela venda, e a embaixada da Arábia Saudita em Washington confirmaram a informação em comunicados separados.

Essa saga confusa começou em 6 de dezembro, quando o Louvre Abu Dhabi tuitou que havia adquirido a pintura mais cara do mundo. Logo após a notícia, o New York Times publicou uma reportagem identificando o príncipe saudita Bader bin Abdullah bin Mohammed bin Farhan al Saud como o comprador, citando documentos analisados pelo jornal.

No dia seguinte, o Wall Street Journal informou que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, era o verdadeiro comprador, citando uma fonte na comunidade de inteligência do governo dos EUA e uma personalidade do mundo da arte saudita a par da compra.

O príncipe herdeiro não se pronunciou sobre o assunto. Mas na sexta-feira a embaixada da Arábia Saudita entrou na discussão.

Em resposta às reportagens na imprensa sobre a venda, a embaixada afirmou que entrou em contato com o gabinete do príncipe Bader, que confirmou que a obra de arte foi "adquirida" pelo departamento de cultura de Abu Dhabi.

A indagação revelou que o príncipe Bader, "como apoiador e amigo do Louvre Abu Dhabi, participou da cerimônia de inauguração do museu, em 8 de novembro, e foi convidado pelo Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi para atuar como intermediário na compra da peça", afirma o comunicado.

A confusão surge em um momento em que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita está promovendo uma campanha anticorrupção no país. Mais de 300 pessoas foram convocadas para interrogatório e 159 foram detidas, disse o procurador-geral da Arábia Saudita. As contas bancárias de 376 indivíduos, detidos ou ligados a pessoas presas, foram congeladas.

Assunto na Art Basel

As notícias sobre o duelo de compradores foi o assunto da semana no mundo da arte durante a Art Basel Miami Beach, que reuniu as principais galerias e os principais colecionadores do mundo para a maior feira de arte contemporânea dos EUA.

Quando, em um primeiro momento, a identidade do príncipe Bader foi revelada, os colecionadores se perguntaram se a pintura seria um empréstimo ou um presente para o Louvre Abu Dhabi -- e também como ele poderia estar autorizado a avançar com a compra em meio à repressão à corrupção no reino.

"É tudo muito estranho", disse Jean Pigozzi, colecionador de arte africana, sobre o papel do príncipe Bader. "Todos esses indivíduos ricos estão detidos em um hotel e essa pessoa aparece e assina um cheque de US$ 450 milhões?"

Talvez isso explique por que a embaixada da Arábia Saudita, em e-mail a jornalistas, informou: "À luz de reportagens errôneas sobre a compra da pintura de Da Vinci, a embaixada do Reino da Arábia Saudita emitiu comunicado para corrigir o equívoco."

A pintura, que retrata Jesus Cristo segurando uma bola de vidro em uma mão, foi vendida na Christie's pelo bilionário russo Dmitry Rybolovlev em 15 de novembro. Desde então, a identidade do comprador era o segredo mais procurado.

"Essa não é uma história normal no mercado de arte", disse o blogueiro de arte Lee Rosenbaum na sexta-feira. "Talvez seja necessário ter essa bola de cristal para prever o que vai acontecer a seguir."