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Tiger Global e Temasek esperam recuperação do pior IPO da AL

Fabiola Moura

22/12/2017 17h02

(Bloomberg) -- A Netshoes vive uma fase difícil, perdendo mais de metade do seu valor desde a oferta pública inicial de abril em um golpe aos investidores, entre os quais Tiger Global Management, de Chase Coleman, e Temasek Holdings, de Cingapura.

A Netshoes, uma varejista brasileira de artigos esportivos on-line, está tentando reverter sua sorte depois que alguns resultados decepcionantes pesaram sobre a ação. A expansão da Amazon.com Inc. no país também prejudicou os investidores sobre as perspectivas da empresa, tornando a Netshoes a pior oferta pública inicial na América Latina este ano.

Os investidores podem estar dispostos a aceitar as perdas operacionais trimestrais da Netshoes, mas a empresa deveria crescer mais rápido depois de arrecadar US$ 148,5 milhões na Bolsa de Valores de Nova York, disse Joelson Sampaio, professor de economia e finanças da Fundação Getúlio Vargas.

"Quando você vai para um IPO, você espera uma taxa de crescimento melhor", disse Sampaio. "Eles arrecadaram mais de meio bilhão de reais e poderia se esperar que este dinheiro fosse usado em fusões e aquisições, mas a empresa preferiu prosseguir apenas com o crescimento orgânico".

A Netshoes começou como uma loja de sapatos fundada por dois primos em São Paulo em 2000. Em 2007, ela havia se transformado em um negócio totalmente online. A empresa agora obtém cerca de 90% de suas vendas no Brasil e opera dois sites: a Netshoes, que vende vestuário e equipamento esportivo, e o Zattini, varejista de moda. Temasek aportou 135 milhões de reais de financiamento em 2012. O investidor Tiger Global adicionou US$ 50 milhões em 2014. Ambas as empresas se recusaram a comentar.

Netshoes disse aos investidores este ano que usaria os recursos da venda de ações para financiar o desenvolvimento de software e adquirir propriedades e equipamentos para centros de distribuição, entre outros propósitos. E advertiu-os de que nunca tinha alcançado lucro anual. "Embora estejamos melhorando nossos resultados operacionais ano a ano, talvez não possamos registrar lucros ou fluxo de caixa operacional positivo de forma consolidada em um futuro próximo", disse a empresa em um comunicado antes do IPO.

A empresa registrou prejuízos líquidos de 34,9 milhões de reais no segundo trimestre e 47,8 milhões no terceiro, ambos maiores do que no mesmo período do ano anterior. "Eles apresentaram perdas maiores do que o esperado", disse Andrea Minardi, professora de economia da Insper. "A maior preocupação com os varejistas eletrônicos, como a Netshoes, é sua capacidade de ganhar dinheiro".

A Netshoes tem recomendações de compra da JPMorgan, Goldman Sachs e do Bradesco BBI, enquanto a Jefferies recomenda a manutenção das ações. Esses são os quatro bancos que coordenaram o IPO. Ao reduzir o preço do preço da ação da empresa para US$ 10 de US$ 20 em novembro, o analista da Goldman Sachs Irma Sgarz manteve sua recomendação de compra, dizendo que o preço já refletia os riscos que a empresa enfrenta. As ações fecharam quinta-feira em US$ 8,34.

O Ebitda deve ingressar no território positivo no quarto trimestre, graças à temporada de férias e à melhoria da economia, disse Otavio Lyra, diretor de relações com investidores da Netshoes. "Nosso negócio é extremamente sazonal e o quarto trimestre é o mais importante", disse ele.

A temporada está com um bom - mas não extraordinário - início, disse a consultoria Ebit. A receita de comércio eletrônico no Brasil subiu 10% em relação ao período promocional Black Friday, de acordo com a Ebit. A Netshoes processou mais de 100 mil vendas por dia durante o fim de semana, cerca de três vezes sua média diária, informou a empresa em um email.

Os dados de varejo até agora mostram que o quarto trimestre será melhor do que em anos anteriores, mas não será um enorme crescimento, disse Pedro Guasti, diretor executivo da Ebit. Após dois anos de recessão no Brasil, os consumidores ainda estão muito preocupados com seus empregos. "A economia realmente só se transformará quando os empregos começarem a ser criados de novo".

Como a maioria dos varejistas brasileiros, a ação da Netshoes teve um pico quando a Amazon anunciou em outubro que está aumentando sua presença na maior economia da América Latina. O gigante online planeja operar um mercado de eletrodomésticos e eletrônicos, além de se expandir para produtos domésticos e de cozinha. Apesar da ameaça competitiva, Lyra disse que a Netshoes vê a Amazon como uma oportunidade potencial, já que trabalhou com provedores locais no Brasil.

"Pode demorar um pouco, mas não há dúvida de que a Amazon irá expandir-se para produtos de moda e esportes", disse ele. "Sempre há espaço neste mercado para um bom provedor de serviços e somos um bom fornecedor de serviços. Então, neste momento, queremos nos posicionar como um parceiro em potencial ".