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Líderes de torcida de Kim Jong Un estão paradas no tempo

Sohee Kim e Heesu Lee

23/02/2018 14h38

(Bloomberg) -- A equipe de animadoras de torcida do líder norte-coreano Kim Jong Un hipnotizou os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018 quando as "soldadas de batom" cantaram gritos de guerra empolgantes e aplaudiram em uníssono.

No entanto, as mais 200 de líderes de torcida, com penteados idênticos, batons cor-de-rosa e roupas de neve vermelhas, chamaram a atenção de muitos espectadores dos Jogos por outro motivo: a enorme disparidade cultural que teria que ser enfrentada se e quando os dois países chegarem a um acordo de paz.

"Tenho a impressão de que a maquiagem e as roupas delas passaram de moda, são algo que eu esperaria ver na década de 1980 ou 1990, e isso sugere o quanto a Coreia do Norte está atrasada em relação a nós culturalmente", disse Jeong Se-rim, 22, uma enfermeira que estava na Gangneung Ice Arena para ver as duplas de patinação artística da Coreia do Norte. "Imagino que minha mãe usava algo assim quando tinha 20 e poucos anos."

Como as sanções internacionais por causa dos testes nucleares e dos lançamentos de mísseis do país isolado continuam sendo reforçadas, a economia e a cultura do Norte continuam muito atrasadas em relação às da vizinha do Sul.

"Os sul-coreanos só pensam no passado ao ver os norte-coreanos, e os norte-coreanos ficam muito chocados quando vivenciam a cultura americanizada da Coreia do Sul", disse Philo Kim, professor associado do Instituto de Estudos para Paz e Unificação da Universidade Nacional de Seul. "Há uma enorme disparidade cultural entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul."

Tentativas

Tentativas clandestinas de reduzir essa diferença são reprimidas duramente. Música K-Pop e novelas coreanas guardadas em pen drives estão sendo contrabandeadas no Norte por meio de comerciantes do mercado negro. Mas uma campanha recente de repressão, que incluiu a prisão de quem tivesse esses itens, desacelerou a difusão da cultura pop sul-coreana, segundo uma pesquisa recente com desertores norte-coreanos realizada pelo instituto de Kim.

Um desertor norte-coreano que chegou recentemente a Seul após estudar em uma universidade no Norte disse que os funcionários do partido escutam as estrelas do pop norte-coreano, mas seus filhos ouvem músicas de K-pop em segredo.

Ele contou que uma vez um colega de sala foi flagrado de madrugada com conteúdos sul-coreanos no disco rígido. Esse colega, que tinha uma conexão com a família de Kim Jong Un, conseguiu se safar e foi rebaixado de sala, segundo o desertor, que pediu anonimato porque sua família continua na Coreia do Norte.

"Mas eu só consegui escutar K-pop duas vezes, porque tinha medo de ser assassinado se me pegassem", disse ele.

--Com a colaboração de Jiyeun Lee