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Excesso de sol pode causar estragos em carros autônomos

Kyle Stock e Brian K. Sullivan

16/03/2018 14h35

(Bloomberg) -- Os carros autônomos ainda estão tentando dominar a neve. Acontece que o excesso de sol também pode representar um problema para a próxima onda de motoristas robóticos.

A ameaça vem das tempestades solares, as erupções ocasionais de grandes quantidades de energia que podem gerar um enorme pico de atividade geomagnética e radiação. Apesar de não serem imediatamente evidentes para os motoristas humanos, essas tempestades podem cortar a conexão de dados entre o sistema de posicionamento global (GPS, na sigla em inglês) de um veículo e os satélites que fornecem informações de localização. Isso poderia gerar problemas para os carros autônomos em desenvolvimento atualmente se os engenheiros não tomarem cuidado.

Scott McIntosh, diretor do observatório de alta altitude do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR, na sigla em inglês) de Boulder, Colorado, adverte que os sistemas de direção autônoma não devem depender excessivamente do GPS para programar um veículo de mais de 2.000 quilos para ir do ponto A ao ponto B. Em caso de erupções solares, legiões de carros movidos por computadores estacionariam para aguardar o retorno da conectividade.

"Há muito em jogo, do ponto de vista atuarial", disse McIntosh. "Alguns poucos acidentes bastarão" para que o setor enfrente problemas.

As tempestades solares são avaliadas em uma escala de cinco níveis, sendo que o maior deles pode paralisar as redes internacionais de energia, derrubar satélites e interromper as comunicações radiofônicas do lado da Terra iluminado pelo Sol. McIntosh supõe que algum dia as previsões meteorológicas incluirão também uma sinopse do "clima espacial" para que os motoristas -- humanos e digitais -- possam se preparar para essas interrupções.

Há três anos, os EUA colocaram um satélite no espaço profundo, a 1,6 milhão de quilômetros de altura, e ordenaram que o equipamento fique voltado por tempo indefinido para o Sol. Quando as tempestades solares estão chegando, o Centro de Previsão do Tempo do Espaço dos EUA (SWPC, na sigla em inglês) atua como uma boia náutica e oferece um alerta antecipado a empresas de serviços públicos, companhias aéreas e outros setores fortemente dependentes de dados aéreos. Geralmente, a Terra recebe uma notificação 30 a 60 minutos antes de as partículas carregadas começarem a causar estragos.

Em setembro, o sistema rendeu frutos. Aviões com destino aos polos tiveram rotas recalculadas quando o satélite registrou duas ejeções de massa coronal, uma delas classificada no nível três da escala de gravidade.

A boa notícia é que o Sol atualmente está menos agitado. Suas explosões de energia seguem um ciclo pouco rígido de 11 anos, que atingiu o pico pela última vez em abril de 2014. O surgimento dos veículos autônomos parece coincidir com um período relativamente calmo.

No caso de interrupção solar, no mínimo existirá redundância suficiente para que o carro se detenha calmamente e estacione, disse Danny Shapiro, diretor sênior da unidade automotiva da Nvidia, que produz chips e sistemas de inteligência artificial para a Uber e para um amplo grupo de fabricantes de automóveis. Além disso, os veículos automatizados podem funcionar bastante bem mesmo quando a conectividade on-line é dificultada.

"Com medidas tão detalhadas, como mudanças na pista e ciclovias, não há tempo para pegar todos esses dados, enviar à nuvem e receber de volta", disse Shapiro. "A nuvem é necessária quando o usuário pergunta 'ei, qual é o caminho mais rápido para o Starbucks?'"