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`Chicago Boy' Ajuda a acalmar banqueiros receosos de Bolsonaro

David Biller e Cristiane Lucchesi

02/04/2018 07h00

(Bloomberg) -- Um dos principais candidatos a se tornar o próximo presidente do Brasil tem uma maneira peculiar de tentar acalmar as preocupações dos banqueiros sobre seus comentários passados sobre a economia: admitir sua ignorância.

A franqueza de Jair Bolsonaro pode significar que ele está mais propenso a seguir a orientação de Paulo Guedes, seu principal assessor econômico e defensor da privatização de empresas estatais e da revisão da previdência social. Bolsonaro, que está subindo nas pesquisas, chegou a dizer anteriormente que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deveria ser baleado por tentar vender propriedades estatais.

Embora essas visões contrastantes possam sugerir uma dupla estranha, Bolsonaro afirma que escolheria Guedes como seu ministro da Fazenda e ao mesmo tempo voltou atrás em várias de suas posições que são importantes para as elites financeiras do Brasil - incluindo a privatização e a necessidade de um banco central independente.

"Os últimos 30 anos foram um desastre - corrompemos a democracia e estagnamos a economia", disse Guedes em sua primeira entrevista à imprensa internacional desde que seu nome surgiu em conexão com Bolsonaro. "Deveríamos ter feito o que os Chicago Boys defendiam", disse ele, referindo-se a um grupo de economistas influenciados pela Universidade de Chicago que defendiam a desregulamentação das economias fortemente controladas da América Latina na década de 1970.

Bolsonaro e Guedes também concordam com uma das questões que o economista diz que será decisiva na eleição de outubro: crime e segurança pública.

Parte do apelo de Bolsonaro "é que ele está dizendo que o papel do governo deve ser preservar a vida e a propriedade, combater o crime", disse Guedes, que obteve seu doutorado em economia em 1978.

Assassinatos, seqüestros
É uma mensagem com poder em um país onde mais de 55.000 pessoas são assassinadas a cada ano, o maior número absoluto para qualquer nação do mundo. O Rio de Janeiro, onde o sequestro de caminhões foi em média de um por hora no ano passado, não está entre as 50 áreas urbanas com mais assassinatos do mundo - mas outras 19 cidades brasileiras estão.

Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, diz que afrouxaria as restrições às armas e daria mais liberdade à polícia. As autoridades deveriam receber armas mais letais, disse Bolsonaro, e os que matam criminosos deveriam receber medalhas, não ir a julgamento. O candidato é o segundo colocado nas pesquisas de opinião pública, atrás apenas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi condenado por corrupção e provavelmente será impedido de concorrer.

Bolsonaro está conseguindo apoio popular apesar de - ou por causa de - suas declarações inflamadas e sua atitude audaz. Em entrevista à Bloomberg, o deputado carioca disse que tem apenas uma "compreensão superficial" da economia, expressando esperança de que a taxa básica de juros do Brasil caia para 2%, apesar de não ter caído abaixo de 6,5% nas últimas duas décadas. Ele disse que se opõe a "fazer concessões" à China, o maior parceiro comercial do Brasil.

Os banqueiros entrevistados sobre Bolsonaro não quiseram comentar, mas em conversas privadas confessaram que sua imprevisibilidade é motivo de preocupação. Bolsonaro, 63 anos, foi membro de pelo menos oito partidos políticos e nunca liderou nenhum deles. Para esta eleição, ele é candidato pelo pouco conhecido Partido Social Liberal, ao qual ele se juntou em março.

"As pessoas viam Bolsonaro como imprevisível e eu decodifiquei o que estava acontecendo", disse Guedes.

Guedes, 68 anos, um dos fundadores da Bozano Investimentos, uma empresa de private equity baseada no Rio, tem defendido a economia do mercado livre e eficiente na América Latina e fundou o Instituto Millenium, um think tank brasileiro que promove essa ideologia.

Guedes, em 1983, ajudou a fundar o Banco Pactual SA, que mais tarde se tornou Banco BTG Pactual SA. Na Bozano, ele investiu em empresas como a Abril Educacao, hoje Somos Educacao SA, uma empresa educacional com valor de mercado de R$ 3,9 bilhões de reais.

"Eu hoje construo empresas", disse ele.