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Rússia bloqueia Telegram e força o Kremlin a usar o ICQ

Stepan Kravchenko e Jake Rudnitsky

16/04/2018 14h39

(Bloomberg) -- A Rússia começou a implementar a proibição ao serviço de mensagens Telegram, que se recusa a entregar chaves de criptografia aos órgãos de segurança do país. A medida forçou autoridades do Kremlin a optar por outra provedora para a comunicação com a imprensa.

A agência reguladora das comunicações Roskomnadzor ordenou nesta segunda-feira que as operadoras de internet e de telefonia celular bloqueiem o acesso ao Telegram em 24 horas. A reguladora agiu depois que um tribunal de Moscou decidiu, na semana passada, que o fundador do Telegram, o russo Pavel Durov, não cumpriu a legislação que exige que a empresa forneça o acesso às mensagens criptografadas dos usuários ao serviço federal de segurança do país.

As medidas do órgão regulador forçaram autoridades do Kremlin a trocarem o Telegram pelo serviço de bate-papo ICQ, pertencente à Mail.ru, do bilionário Alisher Usmanov, para as comunicações com a imprensa russa e internacional. Outros usuários recorreram a redes virtuais privadas que disfarçam sua localização russa na internet para continuarem usando o Telegram.

"Consideramos que a decisão do bloqueio é anticonstitucional e continuaremos defendendo o direito dos russos às mensagens privadas", escreveu Durov, na segunda-feira, na rede social VKontakte. A decisão prejudica a segurança nacional da Rússia porque os usuários passarão a optar pelos serviços Facebook e WhatsApp, que são "controlados pelos EUA".

O Telegram tem mais de 9,5 milhões de usuários na Rússia, segundo a empresa de pesquisa Mediascope. A companhia registrada nas Ilhas Virgens informou no mês passado que seu público mundial superou a casa dos 200 milhões de usuários, impulsionada pela atenção à maior oferta inicial de moedas do mundo. Por ser reconhecido como um provedor de informações na Rússia, o Telegram precisa fornecer acesso para que o órgão de segurança leia mensagens de suspeitos de terrorismo. A empresa brigava para que essa obrigatoriedade fosse considerada inconstitucional, mas perdeu uma disputa na Suprema Corte russa, no mês passado.

"O Telegram é uma conquista nacional da qual a Rússia deveria se orgulhar", escreveu o jornalista russo Yevgeny Kiselyov, em um blog da rádio Echo Moskvy. "É a mais famosa das empresas de tecnologia conectadas à Rússia e foi criada sem roubar do orçamento ou de recursos naturais."

Mesmo que altere o software do Telegram para tentar driblar o bloqueio russo, Durov "perceberá que a maioria das pessoas simplesmente não quer preocupações", disse o consultor de internet do Kremlin German Klimenko no Facebook.