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Músicos independentes optam por gravadora na era do Spotify

Lucas Shaw

18/04/2018 14h16

(Bloomberg) -- No palco do Coachella, Josh Conway sentia o cheiro do sucesso. Ele e seus compatriotas da banda independente The Marías estavam tocando no maior festival de música da América do Norte. Estavam a ponto de chegar lá.

E com isso veio o fantasma da maior decisão de suas carreiras: assinar com uma gravadora ou continuar independentes na economia do Spotify?

"Em termos de exposição, estamos indo muito bem", disse Conway, o descabelado baterista do The Marías, um quinteto que toca soul psicodélico com toques de pop. "Mas tem muita coisa que uma gravadora pode fazer que nós, por nossa conta, não podemos."

Em uma época em que Spotify, Apple Music e outros serviços de streaming amplificam como nunca o alcance dos músicos, as poderosas gravadoras ainda conservam muita influência. Precisa de dinheiro para pagar as horas de gravação no estúdio? A gravadora pode pagar a conta. Sonha com tocar em programas de TV noturnos ou em outros eventos de alto nível? A gravadora tem os contatos necessários. E nem pense em ônibus de turnê extravagantes nem em hotéis modernos sem um grande apoio dos selos de gravação.

A Spotify Technology é a maior das forças que tentam acabar com o status quo da indústria da música. A empresa sueca convenceu 71 milhões de pessoas a pagar uma tarifa mensal para ter acesso a uma biblioteca de mais de 35 milhões de músicas, impulsionando três anos de recuperação das vendas da indústria fonográfica e ampliando sua própria avaliação para mais de US$ 25 bilhões.

Mas, embora os donos dos direitos das músicas coletem mais de 70 por cento das receitas do Spotify (e tenham participações acionárias na empresa), a maioria dos artistas diz que continua recebendo muito pouco desse dinheiro. "O streaming não rende nada", disse Conway.

Os artistas poderiam receber uma quantia maior, argumenta o Spotify, se driblassem de uma vez as gravadoras e distribuíssem suas músicas diretamente por meio dos serviços de streaming. O Spotify começou a oferecer ferramentas para ajudar artistas que optam pela independência, incluindo informações a respeito de onde fazer turnês, propagandas e formas de monitorar os royalties.

Mas a empresa não oferece a mão de obra e o financiamento das grandes gravadoras, e alguns dos maiores defensores dos contratos com as gravadoras importantes são as próprias estrelas em ascensão da música.

A banda The Marías já conseguiu uma série de proezas de forma independente desde a primeira apresentação, para 20 pessoas, em uma pizzaria de Pasadena, Califórnia, há cerca de um ano. Eles esgotaram as datas da turnê e conseguiram tempo na National Public Radio depois de lançar músicas em serviços de streaming e de trabalhar com ferramentas promocionais como o Facebook e o Instagram.

Os caçadores de talentos começaram a perceber isso, e a banda acaba de assinar com seu primeiro agente. Agora, os integrantes da banda estão esperando para ver o que as gravadoras oferecerão antes de tomarem uma decisão. A principal prioridade é conseguir pontas em filmes ou tocar em programas de TV noturnos.

"Tenho certeza", disse Conway, de que "os programas noturnos só recebem bandas de gravadoras".