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BCs de emergentes são os maiores causadores de surpresas

Enda Curran

19/04/2018 12h08

(Bloomberg) -- Bancos centrais de países emergentes são mais inclinados a surpreender investidores com decisões inesperadas do que suas contrapartes em nações desenvolvidos, de acordo com estudo realizado pela Bloomberg Economics.

Uma análise das decisões dos bancos centrais do Grupo dos 20 desde 2010 concluiu que o Federal Reserve dos EUA é o que menos surpreende, enquanto autoridades monetárias em importantes países emergentes estão na outra ponta do espectro.

"A revolução da transparência no trabalho dos bancos centrais praticamente eliminou surpresas nas decisões tomadas por Federal Reserve, Banco Central Europeu e Banco da Inglaterra", de acordo com o relatório elaborado por economistas da Bloomberg liderados por Tom Orlik. "Nos mercados emergentes, no entanto, a história é diferente, com bancos centrais retendo o poder de surpreender."

Até certo ponto, o choque é relacionado à opacidade dessas instituições na comparação com seus pares em economias desenvolvidas. Segundo um ranking formado por cinco critérios, Fed, Banco da Inglaterra e Banco do Japão são os mais transparentes, enquanto o maior causador de surpresas é o Banco Popular da China.

Um exemplo ocorreu nesta semana, quando a inesperada decisão chinesa de reduzir o depósito compulsório para alguns bancos embalou um movimento de valorização no mercado de renda fixa. Quando a China agiu para depreciar o iuane em agosto de 2015, houve fuga de capital e impactos negativos nos mercados globais.

"No caso do Banco Popular da China, como não existem reuniões agendadas, classificamos como surpresas as decisões que não eram previstas pelo mercado no início do trimestre", explicou Orlik. "Talvez isso superestime um pouco o número de surpresas, dado que a visão do mercado pode mudar entre o começo do trimestre e o momento da decisão."

Mudanças de comando

Mudanças nas equipes que comandam essas instituições são outra fonte comum de surpresa.

"Bancos centrais tendem a surpreender mais com mudanças de liderança e direção da política monetária", segundo a análise. "Como 2018 é um ano importante para os dois fatores, as chances de surpresa parecem um pouco elevadas."

Dando sinalização clara ao mercado, Fed, Banco da Inglaterra, Banco do Canadá e BCE são os menos surpreendentes entre o G-20, com apenas 3 por cento de decisões inesperadas, na média, desde 2010.

Na outra ponta, China, Rússia, Índia e Brasil surpreendem, na média, 25 por cento das vezes.

Transparência

Para avaliar a transparência dessas instituições, a Bloomberg Economics examinou cinco critérios: se as reuniões de política monetária são agendadas, se são publicadas as atas dessas reuniões, se há entrevista coletiva com a imprensa após cada decisão, se as autoridades conversam com jornalistas em caráter não oficial e se fazem discursos públicos.

Segundo essas métricas, os bancos centrais da China e Arábia Saudita são os menos transparentes.

A análise da Bloomberg Economics definiu como surpreendentes decisões que desviam da previsão mediana das pesquisas Bloomberg. Decisões em reuniões não agendadas também são consideradas surpresas. No caso das instituições que não realizam encontros regulares, como o Banco Popular da China, a premissa é que as reuniões são trimestrais, segundo Orlik.

"Existem exceções à regra", de acordo com o relatório. "A nota do Banco do Japão é perfeita, em 5 pontos de um máximo de 5 em transparência, mas mesmo assim surpreende bastante. Talvez porque seus integrantes usem surpresa para maximizar o impacto das ferramentas muito limitadas que têm à disposição."

Mudanças na política monetária são a maior fonte de surpresas. Na média, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul causaram 1,7 surpresa por ano desde 2010 e 2,5 surpresas em anos de mudança de direção.