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Blockchain está prestes a revolucionar a indústria naval

Kyunghee Park

19/04/2018 11h14

(Bloomberg) -- A globalização criou as redes de comércio mais avançadas que o mundo já viu, com os navios maiores e mais rápidos, portos operados por robôs e vastos bancos de dados de computadores para monitorar cargas. Mas tudo isso ainda depende de milhões e milhões de documentos em papel.

Esse último resquício do comércio do século 19 está prestes a sair de cena. A AP Moeller-Maersk e outras linhas de transporte marítimo de contêineres se uniram a empresas de tecnologia para atualizar a rede logística mais complexa do mundo.

A recompensa é uma revolução do comércio mundial em uma escala não vista desde a iniciativa de padronizar os contêineres, na década de 1960 -- mudança que inaugurou a era da globalização. Mas o empreendimento é tão grande quanto a potencial perturbação que causará. Para que isso funcione, dezenas de companhias de navegação e milhares de negócios relacionados em todo o mundo -- incluindo fabricantes, bancos, seguradoras, corretoras e autoridades portuárias -- terão que elaborar um protocolo capaz de integrar todos os novos sistemas em uma vasta plataforma.

Se tiverem sucesso, a documentação que leva dias futuramente será feita em minutos e boa parte dela sem a necessidade de intervenção humana. O custo de movimentação de mercadorias entre os continentes pode cair drasticamente, gerando novo impulso para a realocação de fábricas e para o recebimento de materiais e produtos do exterior.

"Essa seria a maior inovação do setor desde a conteinerização", disse Rahul Kapoor, analista da Bloomberg Intelligence em Cingapura. "Basicamente, gera mais transparência e eficiência. As linhas marítimas de contêineres estão saindo de suas conchas e concorrendo entre si em termos de tecnologia."

A chave, como em muitos outros setores, dos navios-petroleiros às criptomoedas, é o blockchain, o sistema de livro-razão eletrônico que permite que as transações sejam verificadas de forma autônoma. E os benefícios não ficariam limitados ao transporte marítimo. A melhora das comunicações e da administração de fronteiras usando blockchain poderia gerar US$ 1 trilhão adicionais em comércio global, segundo o Fórum Econômico Mundial.

A APL, de propriedade da terceira maior companhia marítima de contêineres do mundo, a CMA CGM, a Anheuser-Busch InBev, a Accenture, uma organização aduaneira europeia e outras empresas anunciaram no mês passado que testaram uma plataforma baseada em blockchain. E a sul-coreana Hyundai Merchant Marine realizou testes no ano passado usando um sistema desenvolvido com a Samsung SDS.

O caminho dos documentos de embarque começa quando o proprietário de uma carga reserva espaço em um navio para transportar mercadorias. Os documentos precisam ser preenchidos e aprovados antes que a carga possa entrar ou sair de um porto. Uma única remessa pode exigir centenas de páginas, que precisam ser entregues fisicamente a dezenas de diferentes agências, bancos, alfândegas e outras entidades.

"A papelada e os processos vitais para o comércio global são também uma de suas maiores sobrecargas", afirmou a Maersk, a maior companhia de transporte marítimo de contêineres do mundo, que se uniu à International Business Machines para possibilitar o rastreamento em tempo real de suas cargas e documentos usando blockchain. "A pesquisa do caminho da papelada feita pela Maersk revelou a extensão do ônus que documentos e processos geram ao comércio e também as consequências."