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Feira no Chile evidencia desigualdade de gênero na mineração

Laura Millan Lombrana

26/04/2018 12h42

(Bloomberg) -- A maior exposição sobre mineração da América Latina começou com um seminário sobre a promoção da igualdade de gênero. Enquanto isso, no centro de exibições, a alguns quilômetros de distância, mulheres com vestidos apertados e salto alto posavam ao lado de estandes de ferramentas de mineração e na entrada promotoras de clubes de strip-tease ofereciam aos participantes cupons que davam direito a duas bebidas pagando uma.

A Expomin, um evento de uma semana realizada no Chile, deu uma ideia do progresso do setor -- e do tanto que ainda falta percorrer. Na última vez em que o evento foi realizado, em 2016, a então ministra da Mineração do Chile, Aurora Williams, defendeu o fim do uso de mulheres como isca comercial e estabeleceu uma meta de 10 por cento de participação feminina no setor para 2018. O setor ainda não atingiu essa meta.

Como símbolo de seu compromisso, a Expomin abriu com o painel "Mulheres e Mineração". Cerca de metade dos oradores da sessão eram mulheres, um contraste marcante em relação ao evento geral. Cerca de 85 por cento das vagas para palestras foram entregues aos homens. "Não estamos fazendo isso para ficar bem na foto", disse Joaquín Villarino, presidente do Conselho de Mineração do Chile, a uma plateia composta principalmente por mulheres.

A imagem oficial não pareceu tão boa -- a cerimônia de inauguração do evento não teve mulheres, apenas o ministro da Mineração chileno, Baldo Prokurica, e alguns dos principais executivos da mineração do país sorrindo para a foto comemorativa.

Enquanto isso, na sala de exposições, promotoras se posicionam de pé ao lado de ferramentas de mineração, máquinas pesadas e grandes cartazes anunciando soluções de engenharia. Elas distribuem sacolas com merchandising, atraem visitantes para os estandes e iniciam o diálogo. A partir daí, normalmente um funcionário do sexo masculino assume o controle.

Empregar mulheres seminuas não é incomum em feiras. As cenas da Expomin não são muito diferentes das vistas em sua equivalente peruana, a Perumin. Mas a prática está se tornando gradualmente menos comum. As modelos desapareceram da última edição de um salão automotivo em Genebra, em fevereiro, e também não marcam presença na maior feira de mineração do mundo, a PDAC, em Toronto.

A Expomin entrega às empresas amplas regras a respeito de como os estandes devem ser montados, o que inclui empregar trabalhadores que conhecem bem o produto, disse o diretor-executivo Carlos Parada. Seguindo recomendações da Universidade do Chile, a organização lembra os expositores que as mulheres que trabalham nos estandes devem refletir os valores do empregador em relação às mulheres. Mas não estipula um código de vestimenta específico.

"É difícil estabelecer um limite para isso e é difícil controlar -- precisaríamos de um esquadrão de inspetores", disse Parada, por telefone.

Na entrada da exposição, mulheres vestidas com macacões apertados distribuem convites para clubes de strip locais, onde há bebidas gratuitas disponíveis para quem tiver um emblema da Expomin. Elas usam o logotipo do evento -- sem permissão, segundo Parada -- juntamente com fotos de mulheres seminuas usando capacetes de mineração e segurando picaretas.

No fim do ano passado, as mulheres representavam 7,9 por cento dos funcionários de mineração no Chile, menos de 13,2 por cento na Austrália e 19,6 por cento no Canadá, segundo o Conselho de Mineração do Chile.

--Com a colaboração de Steve Stroth e Philip Sanders