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Opep pode reduzir volume ainda mais por problemas em Angola

Rupert Rowling e Grant Smith

27/04/2018 10h08

(Bloomberg) -- Enquanto a queda da produção da Venezuela atrai a atenção do mundo do petróleo, em outro país da Opep os problemas se propagam silenciosamente.

Angola, que já foi a maior produtora de petróleo da África, registra quedas acentuadas nos campos offshore com baixos investimentos, com uma queda da produção quase três vezes maior à prometida pelo país no acordo fechado com os demais países membros da Opep. Com a previsão de aceleração das perdas -- um programa de transporte marítimo visto pela Bloomberg News mostra que as exportações de petróleo atingirão em junho o menor nível desde 2008, pelo menos --, o cartel pode restringir demais a oferta.

"Angola tem um problema sério, suas taxas de declínio estão se tornando cada vez mais visíveis", disse Richard Mallinson, analista da consultoria Energy Aspects em Londres. "O número baixo de junho não parece um padrão de manutenção, aponta para declínios estruturais mais acentuados."

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados conseguiram eliminar o excesso de petróleo por meio de cortes de produção iniciados no começo de 2017, o que colocou os preços na maior alta em três anos, acima de US$ 75 o barril. A iniciativa foi ajudada pelas perdas acidentais na Venezuela, país-membro que está cortando seis vezes o total prometido em meio a uma crise econômica aguda, que afeta a indústria do petróleo local.

A Opep corre agora o risco de restringir demais os mercados internacionais e de colocar os preços em níveis que reduzam a demanda por petróleo ou provoquem uma nova onda de oferta rival dos EUA. Com a soma do declínio gradual em Angola à queda atual na Venezuela, o perigo só aumenta.

As interrupções de oferta não intencionais são frequentes no cartel. Nigéria e Líbia ficaram isentas do acordo para reduzir a produção porque sua produção já havia sido diminuída pela instabilidade local, enquanto a implementação do acordo no Iraque só melhorou quando as exportações foram suspensas devido a uma disputa política. Alguns traders já estão evitando o petróleo iraniano com medo de que o presidente Donald Trump volte a aplicar sanções.

Alívio do declínio

A queda da produção angolana pode receber um alívio até o fim do ano com o início da produção em um campo de petróleo operado pela Total. O campo de Kaombo, cujo início em 2017 foi adiado, terá capacidade de 230.000 barris por dia.

Isso pode não ocorrer cedo o bastante.

Apesar de a produção de todos os campos de petróleo diminuir com o tempo devido à queda da pressão dos reservatórios, a manutenção das operações em águas profundas em Angola é particularmente cara. Devido ao investimento insuficiente de capital, a taxa de declínio dos depósitos de Angola é mais que duas vezes superior à média global, de 13 a 18 por cento, estima Mallinson.

"A maioria dos campos angolanos tem problemas ou entrou em fase de declínio agudo após três anos -- o motivo é a natureza das características geológicas da produção offshore em Angola", disse.

As dificuldades do país só aumentarão nos próximos anos, prevê a Agência Internacional de Energia. Desde que atingiu o pico de 1,9 milhão de barris por dia em 2008, a produção de Angola caiu para cerca de 1,5 milhão e diminuirá para pouco menos de 1,3 milhão de barris por dia em 2023, segundo a agência.