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Perda de força das reformas no Brasil preocupa, diz Mobius

Vinícius Andrade

25/06/2018 14h57

(Bloomberg) -- Mesmo preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda pode moldar o resultado da corrida presidencial em outubro.

E isso tem deixado Mark Mobius desconfiado de que o país pode se afastar das reformas estruturais que ajudaram a impulsionar o mercado brasileiro.

"Minha visão atual sobre o Brasil pode ser melhor descrita como 'preocupado' que o movimento pela reforma total do governo possa desacelerar como resultado da contínua popularidade de Lula e seus apoiadores", disse Mobius, que deixou a Franklin Templeton Investments no início deste ano para criar a Mobius Capital Partners LLP. "Isso poderia resultar em um enfraquecimento do movimento de reforma ou até mesmo no seu fim".

Mobius não está sozinho nessa preocupação. Os partidários de Lula provavelmente se unirão em torno de qualquer candidato que ele apoiar, potencialmente levando esse nome para o segundo turno da eleição, disse na semana passada Christopher Garman, diretor do Eurasia Group para as Américas.

O desempenho fraco nas pesquisas de candidatos que estão interessados em avançar com as reformas, incluindo a redução dos custos de previdência social e benefícios, até agora também é um fator preocupante. Entre os que não conseguiram impressionar os eleitores está o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, enquanto o ex-capitão do exército de extrema-direita Jair Bolsonaro e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes lideram a disputa.

"Este é um problema real e aumenta o risco político", disse Mobius em resposta a perguntas enviadas por e-mail.

Ações não estão baratas

Mobius não vê as ações brasileiras sendo negociadas como pechinchas, embora tenha citado algumas empresas bem administradas que parecem atrativas depois que o Ibovespa caiu 20% em relação a uma máxima de 12 meses em fevereiro.

"Nossas favoritas são empresas com boa governança corporativa que resistiram à tentação de se envolver em práticas corruptas e que respeitam os direitos dos acionistas", disse ele, sem citar nomes específicos. Os grupos mais atraentes incluem empresas de produtos de consumo. "Há também algumas empresas de manufatura que têm uma forte posição internacional e são capazes de ganhar com o câmbio."

No início deste mês, o real se enfraqueceu para o menor nível em quase dois anos. Esse declínio, combinado com o aumento da produtividade, poderia tornar os exportadores mais atraentes e "ser uma bênção disfarçada", disse ele.

O Banco Central tem inundado o mercado com swaps cambiais com o objetivo de reduzir a vontade dos investidores de manter posições especulativas compradas em dólar e de reduzir a volatilidade da moeda. O montante de swaps cambiais saltou US$ 28,5 bilhões desde que o BC começou a intervir de forma mais agressiva em 8 de junho.

Mobius diz que o Banco Central não deve tentar controlar a taxa de câmbio, já que esses gastos são um desperdício de divisas e motivam uma saída adicional.

"O Banco Central deve trabalhar apenas para um mercado de câmbio líquido, para que a moeda possa encontrar seu nível de mercado", disse Mobius.