Fortuna criada a partir de xarope contra tosse molda Basileia
(Bloomberg) -- Em um canto da praça principal da Basileia, atrás de fileiras de castanheiros, encontra-se uma casa neoclássica com trepadeiras que sobem pela fachada e persianas de madeira que resguardam janelas altas.
É uma das muitas casas suíças pitorescas ao redor da praça de paralelepípedos com uma grande catedral medieval, a Basel Munster, ao centro. O edifício coberto de vinhas abriga a Paul Sacher Foundation, um centro de pesquisa sobre a música dos séculos 20 e 21 cujos arquivos incluem mais de 100 coleções de importantes músicos europeus, como Igor Stravinsky e Béla Bartók.
Nada na fachada impecável revela o ilustre pedigree da organização sem fins lucrativos. Seu fundador, o falecido maestro suíço Paul Sacher, pertencia a uma das famílias mais ricas do planeta: o clã Hoffmann-Oeri, cuja fortuna de US$ 25,1 bilhões ocupa o 22º lugar no ranking da Bloomberg das dinastias mais ricas do mundo.
A riqueza da família começou com Fritz Hoffmann-La Roche, que montou em 1896 uma empresa farmacêutica na Basileia que produzia um xarope contra tosse com sabor de laranja chamado Sirolin. Atualmente uma gigante global com um valor de mercado de US$ 190 bilhões e mais de 93.000 funcionários, a Roche Holding conserva sua sede na terceira maior cidade da Suíça, do outro lado da fronteira com a França e a Alemanha.
Acordo de controle
A empresa é a maior fabricante mundial de medicamentos contra o câncer, como Rituxan e Herceptin. A companhia desenvolveu medicamentos vendidos sob prescrição médica que se tornaram famosos, como Valium e Tamiflu, e, em 2009, comprou a empresa de biotecnologia norte-americana Genentech por cerca de US$ 44 bilhões.
A farmacêutica produziu pelo menos 12 bilionários, e oito dos descendentes de Hoffmann-La Roche controlam cerca de 45 por cento das ações com direito a voto da Roche e uma participação de 8 por cento na companhia, de acordo com o relatório anual de 2017 da empresa. O acordo de controle dos acionistas existe desde 1948 e compreende em grande parte membros da quarta geração da família. Entre eles estão os bisnetos André Hoffmann, 60, que é vice-presidente, e Andreas Oeri, 69, ortopedista que também faz parte do conselho da empresa.
Há gerações, os descendentes de Hoffmann-La Roche estão entre os residentes mais influentes da Basileia, moldando discretamente a vida cultural e cívica da cidade.
"Sem o apoio desta família, a Basileia seria um lugar muito medíocre e provinciano", disse Marc Fehlmann, diretor do Historisches Museum Basel. "Seria como Nova York sem John Pierpont Morgan e a família Rockefeller."
É possível ver os tentáculos da família no centro de arte contemporânea Schaulager, que parece um bunker; nos salões espaçosos do Kunstmuseum, que exibem algumas das obras-primas emprestadas pela família; em uma nova biblioteca na Academia de Música da Basileia; em uma coleção de arte tibetana no Museum der Kulturen; e no edifício pouco interessante que abriga o Scobag Privatbank e que também funciona como o family office da dinastia. Além disso, a família apoia causas ambientais e educacionais, realizando doações a professorados universitários.
'Nossa identidade'
"A Basileia faz parte de nossa identidade", disse Maja Oeri, membro da quarta geração da família que detém 5 por cento das ações com direito a voto da Roche, em uma entrevista publicada em 2015 por sua fundação.
A influência da família pode ser vista por toda a cidade, mas seu nome não é tão evidente. Considerando que se trata da Suíça, a discrição é fundamental, e a maioria das entidades não anuncia seus laços familiares.
"Isso tem a ver com a mentalidade específica do local, que está enraizada em uma atitude muito protestante e calvinista", disse Fehlmann, cujo museu é dedicado à herança cultural da Basileia. "Se você for rico, você apoiará instituições de caridade, mas não vai se vangloriar disso."
--Com a colaboração de Tom Metcalf.
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