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Família Benetton se torna pária na Itália após tragédia da ponte

Tommaso Ebhardt e Daniele Lepido

20/08/2018 12h43

(Bloomberg) -- Durante meio século a família italiana Benetton pregou a compaixão por meio de anúncios surpreendentes de sua linha de roupas homônima que incluíram fotos de uma pessoa com AIDS morrendo, de uma mulher negra amamentando um bebê branco e, mais recentemente, de imigrantes africanos sendo resgatados do mar.

Mas agora os próprios Benetton são foco da indignação pública depois que pelo menos 43 pessoas morreram quando a ponte Morandi, em Gênova, desabou na terça-feira. Isso ameaça parte dos outros negócios da família, muito mais rentáveis, voltados à operação de aeroportos, de pedágios e de restaurantes em estradas de Santiago a Roma.

Os líderes do novo governo de coalizão populista da Itália iniciaram o processo de revogação da lucrativa licença de pedágio da Atlantia, a empresa controlada pela família Benetton, que operava a ponte, e querem que o chefe seja demitido. As ameaças desencadearam uma forte queda que eliminou cerca de 5,9 bilhões de euros (US$ 6,7 bilhões) do valor de mercado da Atlantia em menos de uma semana e alimentou uma reação negativa nas redes sociais, onde dezenas de postagens acusam os Benetton de priorizar os lucros em detrimento da segurança.

Os Benetton só fizeram comentários na quinta-feira, quando emitiram um comunicado por meio da holding Edizione expressando "profundas condolências" pelas vítimas do desastre e prometendo trabalhar com as autoridades para determinar a causa da tragédia, enfatizando que a Atlantia e sua subsidiária Autostrade investiram mais de 10 bilhões nas estradas na Itália nos últimos 10 anos.

Plano

O CEO da Atlantia, Giovanni Castellucci, no sábado, prometeu reconstruir a ponte em um prazo de oito meses e fornecer um montante inicial de 500 milhões de euros para paliar o sofrimento das vítimas, além de possíveis pagamentos de compensação diretos. Esse número equivale a cerca de metade do que os Benetton e outros acionistas receberam da empresa como retorno no ano passado.

Para Enrico Valdani, professor de marketing da Universidade Bocconi em Milão, essas iniciativas talvez não sejam suficientes para diminuir as tensões com o governo ou reconquistar a confiança da população, e lembram muito como a United Colors of Benetton se recusou inicialmente a assumir a responsabilidade pelo desabamento de uma fábrica de roupas em Bangladesh, onde comprava camisetas, em que morreram mais de 1.100 pessoas em 2013.

"Eles cometeram um erro ao não esclarecer prontamente seu suposto papel no desmoronamento fatal da ponte", disse Valdani em entrevista por telefone. "Agora, a família precisa urgentemente de um plano direto de comunicação e gerenciamento de crise. Eles precisam demonstrar que a empresa agiu de boa-fé ou admitir qualquer possível erro."

Um comunicado da família Benetton no sábado, um dia de luto, disse que seus pensamentos estavam com os entes queridos dos falecidos. Ao mesmo tempo, o presidente Fabio Cerchiai disse que, pessoalmente, esperava que Castellucci, 59, continuasse no cargo, acrescentando que o CEO conta com o apoio do conselho e dos investidores.

Representantes se reuniram com executivos e advogados na sexta-feira para preparar o pacote de financiamento inicial e haverá reuniões em Roma nesta semana para discutir as causas da tragédia, de acordo com pessoas a par da situação.

Repórteres da matéria original: Tommaso Ebhardt em Milão, tebhardt@bloomberg.net;Daniele Lepido em Milão, dlepido1@bloomberg.net