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Alaska aposta tudo em Brasil mesmo com volatilidade eleitoral

Paula Sambo, Matthew Winkler e Julia Leite

06/09/2018 12h36

(Bloomberg) -- Um dos fundos de melhor desempenho do Brasil está apostando tudo no país em um momento em que a maioria dos investidores está se desfazendo dos ativos brasileiros a um ritmo sem precedentes.

O Alaska Investimentos, do bilionário Luiz Alves Paes de Barros, alocou todo o seu capital no Brasil -- ficando comprado em ações e no real e navegando a volatilidade sem hedges. A razão do fundo para ignorar a eleição presidencial, riscos ligados ao aumento das taxas de juros dos EUA ou uma guerra comercial global é simples: commodities.

"Estamos em total risk-on", disse o sócio Henrique Bredda, em entrevista, em São Paulo, em 29 de agosto. "Não olhe para a economia para tentar prever os retornos das ações no Brasil, é tudo ligado a commodities. E achamos que as commodities vão subir muito."

A estratégia do Alaska é o oposto do que muitos investidores estão fazendo antes da eleição presidencial mais incerta do Brasil em décadas. Faltando apenas um mês para o primeiro turno, nenhum candidato considerado pró-mercado está ganhando força entre os eleitores, ficando atrás de nomes mais extremistas à esquerda e à direita.

Como resultado, os ETFs brasileiros tem perdido dinheiro mais rápido do que qualquer outro fundo de índice focado em países específicos nos últimos 30 dias. O real caiu mais de 10 por cento no último mês -- pouco, se comparado com a queda prevista pelos investidores se a eleição de outubro der início a um governo menos preocupado em corrigir as contas fiscais do Brasil.

O otimismo do Alaska não tem funcionado a curto prazo. O fundo bateu a maior parte de seus pares nos últimos cinco anos, mas caiu 21 por cento no último mês e está com um retorno negativo em 2018. A carta semestral aos clientes abre com uma frase de Mike Tyson e continua com páginas de exemplos históricos falando sobre manter o plano quando as coisas dão errado.

"Tudo o que vemos no Brasil é pessimismo", disse Bredda. "Está piorando e achamos que vai piorar ainda mais, mas não importa. As pessoas começam a ficar um pouco malucas perto das eleições."

Mas nem a volatilidade -- que está em nível recorde para ações -- nem o temor de que os investidores abandonem o fundo tiram o sono da empresa. Apesar de o Alaska contar com cerca de 30.000 pequenos investidores, a maior parte dos R$ 6 bilhões sob gestão pertence aos sócios, segundo Bredda. O principal fundo deles, focado em ações brasileiras, deu retorno de 333 por cento nos últimos três anos, superando todos os pares, segundo dados compilados pela Bloomberg. O Norges Bank, da Noruega, também investe no fundo.

O Alaska, que já teve até 70 por cento de seus investimentos em ativos estrangeiros há alguns anos, agora aloca todo o capital no país, disse Bredda. As principais escolhas do fundo são atreladas a commodities: Petrobras, Vale, Suzano e Braskem, além de alocações na Marcopolo, na Rumo e na Randon.

Apesar da alta de 5.000 por cento desde que o Alaska comprou as primeiras ações da Magazine Luiza, ação continua oferecendo valor; ou, como disse Bredda, "não se pode vender Magazine Luiza". Investimentos em bancos no momento estão "proibidos", segundo Barros, porque estão caros demais.

O sucesso de qualquer governo que seja eleito, segundo Bredda, depende da situação da economia e do mercado de commodities, e reformas virão independentemente de quem seja eleito em Outubro.

--Com a colaboração de Shin Pei e Aline Oyamada.

Repórteres da matéria original: Paula Sambo em São Paulo, psambo@bloomberg.net;Matthew Winkler em N York, mwinkler@bloomberg.net;Julia Leite em São Paulo, jleite3@bloomberg.net