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Suu Kyi defende condenação de jornalistas da Reuters em Myanmar

Jason Koutsoukis

13/09/2018 12h41

(Bloomberg) -- A líder de Myanmar, Aung San Suu Kyi, disse que os jornalistas Wa Lone e Kyaw Soe Oo, da Reuters, foram presos porque violaram a Lei de Segredos Oficiais do país, e não por serem jornalistas.

Ao defender o Estado de Direito de Myanmar para a plateia de um evento do Fórum Econômico Mundial no Vietnã, nesta quinta-feira, Suu Kyi disse que esse caso controverso "não teve nada a ver com liberdade de expressão" e questionou se os críticos internacionais do veredicto realmente haviam lido a decisão do tribunal.

"Se alguém acha que houve erro judicial, gostaria que apontasse", disse Suu Kyi, em resposta a uma pergunta citando críticas do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, ao julgamento. "Acho que ninguém se importou em ler", disse, acrescentando que os jornalistas tinham "todo o direito de apelar".

Pence disse no Twitter um dia depois do veredicto que estava "profundamente perturbado" com a decisão de prender os jornalistas "por fazerem seu trabalho de reportar as atrocidades cometidas contra o povo Rohingya", em referência às acusações de assassinatos em massa e limpeza étnica dos muçulmanos Rohingya pelo exército de Myanmar no estado de Rakhine. Myanmar rejeita as acusações.

Os repórteres foram presos em 12 de dezembro depois que a polícia os acusou de violar a lei de 1923 ao adquirirem "documentos secretos importantes" de dois policiais. Os dois se declararam inocentes, e a Reuters citou "evidências convincentes de armação policial" depois que um policial testemunhou que um oficial superior havia ordenado que se fizesse uma armadilha para os repórteres. Apesar disso, um juiz de Myanmar condenou os dois jornalistas a sete anos de prisão em 3 de setembro, o que provocou protestos globais.

As críticas internacionais relacionadas ao caso prejudicaram a reputação de Myanmar, tornando mais difícil a situação das empresas que buscavam oportunidades no país depois que os EUA suspenderam amplas sanções a Myanmar após a transição para a democracia. Suu Kyi, que foi prisioneira política antes de chegar ao poder, enfrenta críticas por não garantir a liberdade de imprensa, nem se esforçar para proteger os Rohingya.

"Hoje é um dia triste para Myanmar, para os jornalistas Wa Lone e Kyaw Soe Oo, da Reuters, e para a imprensa em todas as partes", disse o editor-chefe da organização de notícias, Stephen J. Adler, em comunicado, após o veredicto. "Este é um grande passo para trás na transição de Myanmar à democracia, algo que não corresponde ao Estado de Direito ou à liberdade de expressão e que deve ser corrigido urgentemente pelo governo de Myanmar."

Ao comentar a crise no estado de Rakhine, que segundo relatório da Organizações das Nações Unidas do mês passado deveria resultar na investigação e no processamento de generais de Myanmar por genocídio, Suu Kyi disse que a situação poderia ter sido mais bem conduzida.

"Olhando para trás, há situações que claramente poderiam ter sido mais bem conduzidas", disse Suu Kyi. "Mas acreditamos que para ter segurança e estabilidade a longo prazo, temos que ser justos com todos os lados."