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Rejeição de Bolsonaro entre as mulheres pode atrapalhar 2º turno

Simone Iglesias e Rachel Gamarski

23/09/2018 20h27

(Bloomberg) -- Líder nas pesquisas de opinião na disputa pela Presidência, o candidato Jair Bolsonaro (PSL/RJ) enfrenta resistência do eleitorado feminino. O índice de rejeição ao capitão da reserva do Exército subiu a 50% entre elas, mesmo internado após ser esfaqueado em 6 de setembro. Reações nas redes sociais desencadearam o movimento #elenao, com mulheres planejando manifestação em todo o país contra o candidato em 29 de setembro.

A rejeição das mulheres é embalada por declarações e atos polêmicos de Bolsonaro, que já xingou uma deputada de "vagabunda", acrescentando uma frase que chocou grande parte do eleitorado feminino por dizer que ela "não merecia ser estuprada"; destratou uma jornalista que o entrevistava chamando-a de "ignorante" e "idiota"; além de dizer que os homens "fraquejaram" ao ter filhas, e não ver problema na diferença salarial entre homens e mulheres.

A ira contra o presidenciável ganhou novo combustível na última segunda-feira, quando seu vice, o general Hamilton Mourão, disse que famílias pobres lideradas por mães e avós e sem pais e avôs são "fábricas de desajustados". Declaração esta que tirou do sério até Bolsonaro que, internado no hospital, desautorizou o companheiro de chapa, num gesto de aproximação com o eleitorado feminino.

Responsáveis pela campanha de Jair Bolsonaro se abstiveram de comentar.

De acordo com pesquisa Ibope publicada esta semana, 50% das mulheres não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro. Entre os homens, a rejeição é de 33%.

Nas ruas da capital do país é possível identificar essa indignação. "Tenho dó de mulheres que votam no Bolsonaro, elas não têm a menor consciência de vida. Têm aquela velha mente machista", diz a estudante Stefani Martins, 27.

Um grupo criado no Facebook pela publicitária Ludimilla Teixeira, 36 anos, chamado Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, foi hackeado no fim de semana passado, por criticar o líder nas pesquisas. Ao ser restabelecido, nesta semana, saltou de 1 milhão para 3 milhões de seguidoras. "A ideia do grupo foi de Ludimilla, mas a luta é coletiva. A página foi hackeada porque perceberam a força da união feminina. Temos o direito de nos manifestar contra um candidato machista e preconceituoso", disse Ludimilla, em entrevista à Bloomberg.

As mulheres, além de serem maioria do eleitorado, 52,3%, também são as que mais comparecem às urnas, o que pode, em um segundo 2º turno, dificultar uma eventual vitória de Bolsonaro. "Nenhum candidato teve nas eleições uma disparidade tão grande entre homens e mulheres como Bolsonaro neste ano.

Este abismo é uma grande barreira para ele", analisa o cientista político Jairo Nicolau, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Além da disparidade que já existe, as mulheres estão se mobilizando e esses movimentos têm capilaridade", complementa.

Em resposta aos movimentos contra Bolsonaro, mulheres favoráveis ao candidato redobraram esforços em sua defesa. A advogada e professora de Direito da USP Janaina Paschoal, que foi uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), relativiza o perfil polêmico do candidato. "Ele é uma pessoa muito contundente e isso nem sempre é compreendido. Existe uma má vontade dos formadores de opinião para com ele", afirma.

Paschoal avalia que o país enfrenta aumento da criminalidade e da corrupção e que este é o foco das eleições deste ano. "O que as mulheres preferem: um candidato mais ríspido e a garantia da sequência do processo de depuração do país, ou um candidato supostamente gentil e o PT de volta? As opções estão postas."

A advogada brasiliense Andreia Clemente, 35 anos, aumenta o coro pró-Bolsonaro. Diz que concorda com sua plataforma, de defesa da disciplina, educação e combate à corrupção. "Não enxergo as falas dele contra as mulheres e acredito que o mais importante é o que fala sobre criminalidade, bandidos, violência, educação, saúde, corrupção", afirma.

--Com a colaboração de Flavia Said.